Nonato Guedes
Depois de bater boca com o presidente Jair Bolsonaro numa videoconferência dele com governadores do Sudeste, o gestor de São Paulo, João Doria (PSDB) articulou reunião virtual com os 27 governadores, ainda hoje, destinada a tratar do coronavírus, sem a presença do mandatário. Bolsonaro, que perdeu o apoio político do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do DEM, cancelou de última hora e sem maiores explicações um pronunciamento que faria em entrevista coletiva no Palácio do Planalto. Doria foi acusado por Bolsonaro de querer fazer campanha antecipada à Presidência da República para as eleições de 2022. O governador disse a jornalistas que está decepcionado com a postura do mandatário, a quem deu apoio na campanha de 2018.
Doria elogiou Ronaldo Caiado “pela postura correta em defesa da vida” e acrescentou: “Ao fazer sua opção pela medicina, ele sabe que é preciso proteger vidas”. Depois, o gestor de São Paulo mostrou o exame dele do Covid-19 dando negativo e disse que não esconde informação do povo. Bolsonaro se nega a mostrar seus exames. “Presidente, vamos refletir juntos, não pode haver fronteira entre a solidariedade e amor ao próximo”, conclamou, citando a Irmã Dulce e apelando para que Bolsonaro não transforme a discussão sobre o coronavírus numa luta política e disputa eleitoral. “Não politize a questão, presidente, nós não estamos transformando isso em palanque político”, afiançou.
O governador de São Paulo comentou também que Bolsonaro deveria liderar o país e não conflagrá-lo. “Não é no desafio pessoal que vamos construir solução, é no entendimento, reflexão, paz de espírito”, completou. Doria ainda se dirigiu ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para mandar um alerta a fim de que o governo federal não confisque equipamentos e insumos de São Paulo, epicentro da crise. Doria ameaçou recorrer à Justiça se o governo Bolsonaro insistisse na medida. Na videoconferência de logo cedo, Bolsonaro acusou Doria de usar de “demagogia barata” e afirmou que, hoje, o tucano “não tem responsabilidade” e “não tem altura para criticar o governo federal”. Já o governador Ronaldo Caiado, que é médico, explicou que o seu rompimento com o governo Bolsonaro é total, definitivo. “Acabou. Não pode governar de acordo com humor dele, senta e desautoriza todo mundo”, anunciou Caiado, ex-aliado de primeira hora do presidente da República.