Nonato Guedes
O tom foi dado pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) e começa a ser seguido por governadores de diferentes Estados e partidos: o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) não tem mais condições de permanecer no cargo depois que foi desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro, publicamente, na adoção de medidas de prevenção e controle dos efeitos do coronavírus no Brasil. Para os gestores, em sua fala de ontem, que deixou perplexa a Nação, ao minimizar os efeitos da pandemia da Covid-19 e criticar providências tomadas por governadores e prefeitos, Bolsonaro praticamente “deslegitimou” o trabalho de Mandetta e de outros auxiliares. O presidente propôs o fim do “isolamento social” e de barreiras sanitárias que estão sendo colocadas em prática em diversas partes do território nacional.
Já há alguns dias a mídia sulista especula a “ciumada” da parte do presidente Bolsonaro em relação à atuação do seu ministro da Saúde, pela visibilidade que ela alcançou e pela desenvoltura de Mandetta em abrir interlocução com governadores que são potenciais adversários do atual presidente nas eleições de 2022. A gota d’agua teria sido a presença do ministro numa entrevista do governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, no último dia 13, para apresentar medidas de combate ao coronavírus. O evento foi transmitido ao vivo pela televisão e Bolsonaro telefonou, na hora, para o celular do ministro, que não atendeu a ligação, gerando irritação do presidente. Doria se elegeu em 2018 com o slogan “BolsoDoria”, mas virou um dos principais rivais políticos do presidente pela sua pretensão de disputar a Presidência da República.
Mandetta foi repreendido, também, por ter feito outra reunião privada, desta feita com o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, do PSC, que igualmente corteja a hipótese de sair candidato ao Palácio do Planalto. O ministro da Saúde, como nota a revista “Veja”, desde o início da pandemia assumiu a frente do combate à doença e foi elogiado pela seriedade com que vinha tratando o tema e pela capacidade de articulação com o Congresso e os governadores para a tomada, em conjunto, das medidas necessárias. No reverso da medalha, Bolsonaro enfrenta situação de isolamento político e tornou-se alvo de panelaços como sinal de protesto pelo país. Mandetta criticou indiretamente o comportamento de Bolsonaro de cumprimentar apoiadores, na entrada do Palácio do Planalto, sem usar máscaras nem luvas. “A orientação é não, e continua valendo para todo mundo”, chegou a dizer o ministro. Nas últimas horas, em Brasília, a impressão dominante era a de que, se não pedir demissão, Mandetta caminha para ser exonerado. O problema está na repercussão negativa que pode ter para agravar ainda mais a imagem do presidente Bolsonaro perante a opinião pública brasileira e no exterior.
“Veja” detalha que na direção contrária da política de confrontos do chefe, Mandetta tratou de “azeitar” a linha de comunicação entre o Palácio do Planalto e os governadores, esquema que vinha funcionando bem desde a deflagração da crise. Os secretários estaduais de Saúde e membros do Ministério da Saúde criaram um grupo de WhatsApp para otimizar a comunicação. Foi por lá que confirmaram os primeiros casos, detectados em São Paulo, e decidiram concentrar em Mandetta a função de comunica-los à população. O ministro foi também o responsável por negociar com o Congresso a liberação de 5 bilhões de reais para custear as despesas emergenciais dos Estados. O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Alberto Beltrame, afirmou: “O fato de o ministro ter sido deputado e transitar bem dentro do Congresso ajudou bastante, além de ele ser amigo do presidente”. A dados de hoje, Mandetta caiu em desgraça diretamente junto a Bolsonaro.