Nonato Guedes
O Consórcio Nordeste, bloco formado pelos nove Estados da região, anunciou a compra de 350 mil testes rápidos para coronavírus. O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, informou que há uma articulação internacional com a China para adquirir os kits. Ele comunicou ainda que o Laboratório Central do seu Estado está sendo equipado para ampliar a quantidade de testes nos Estados. O Consórcio foi criado em 2019 para assegurar autonomia à região diante da imprevisibilidade de ações e liberação de recursos pelo governo federal, causada pela postura agressiva do presidente Jair Bolsonaro contra alguns gestores.
Bolsonaro chegou a qualificar de “governadores de paraíba”, em tom pejorativo, os administradores nordestinos, que por sua vez não têm poupado críticas nem omitido divergências em relação ao Palácio do Planalto. Ainda agora, há um confronto estabelecido tendo como pano de fundo a orientação do governo Bolsonaro de revogar medidas de isolamento social, adotadas como consequência dos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Os nove governadores divulgaram carta informando que não vão seguir a orientação do governo federal e que vão continuar orientados “pela ciência e pela experiência mundial para nortear todas as medidas” no caso da Covid-19, o novo tipo do coronavírus. No episódio do coronavírus, Bolsonaro atritou-se abertamente com os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB) e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, do PSC.
A “Folha de São Paulo” informa que os Estados resolveram criar uma Câmara técnica formada por secretários estaduais de saúde, médicos e pesquisadores para dar respostas unificadas ao coronavírus, com isto ignorando a inatividade do presidente Jair Bolsonaro e a submissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na definição de reportagem da revista Forum. O objetivo da Câmara é analisar a evolução da doença Estado por Estado e a partir daí projetar as necessidades de cada um e responder às demandas por abrandamento do isolamento. As informações já devem começar a chegar a partir da semana que vem, quando os prazos dos decretos de fechamento do comércio começam a vencer em muitos Estados.
Os gestores reclamam que a abertura do isolamento sem critério, como sugerido pelo presidente Jair Bolsonaro, não é opção viável. A ideia é ter dados científicos para projetar a necessidade de leitos e também para avaliar se é possível aplicar medidas restritivas seletivas, Estado a Estado. O governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, considera que os comerciantes e demais setores terão que se equipar para voltar. “O setor privado está preparado para isso? Não é só o setor público que deve se preparar”, disse. Os gestores resolveram assumir posição de comando com medidas efetivas alegando que o governo federal está imerso em contradições internas, com Jair Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Paulo Guedes (Economia) e o vice-presidente Hamilton Mourão apontando para direções diferentes.