Nonato Guedes
No dizer do ex-presidente Juscelino Kubitscheck, foi uma verdadeira epopeia. A construção de Brasília como nova Capital do Brasil foi a mais durável marca do governo JK (1956-1961) e completará 60 anos no dia 21 de abril próximo. A cidade foi erguida rapidamente e a alto custo, tendo se tornado o principal símbolo da política desenvolvimentista de Juscelino, ex-governador de Minas Gerais e ex-prefeito de Belo Horizonte, que faleceu em 22 de agosto de 1976, em acidente automobilístico, em Resende-Rio de Janeiro, aos 73 anos. Promessa de campanha do então candidato a presidente em 1955, a edificação de Brasília esvaziou politica e administrativamente, por muito tempo, o Rio de Janeiro. Era lá, no Palácio do Catete, que se concentrava o símbolo do poder.
Na inauguração de Brasília, a terceira capital do país – antes do Rio, a capital foi Salvador, na Bahia – Juscelino enfatizou, emocionado: “Meus amigos e companheiros de lutas, soldados da epopeia da construção de Brasília, recebo profundamente emocionado a chave simbólica da cidade filha do nosso esforço, da nossa crença, de nosso amor a este País. Sou apenas o guardião desta chave. Ela é tão minha quanto vossa, quanto de todos os brasileiros. Falei em epopeia e retorno a palavra para vos dizer que ela marcará, sem dúvida, uma época, isto é, “o lugar do céu em que um astro atinge o seu apogeu”. Chegamos hoje, realmente, ao ponto alto da nossa obra. Criando-a, oferecemos ao mundo uma prova do muito que somos capazes de realizar e a nós próprios nos damos uma extraordinária demonstração, e mais conscientes nos tornamos das nossas possibilidades de ação”.
Brasília chamou a atenção pelas dimensões arquitetônicas gigantescas e diferentes, frutos de um estilo moderno de concepção cuja autoria se dividiu entre Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Juscelino, o presidente mais popular do Brasil, e Brasília, se confundiram ao longo do tempo. Eleito pela coligação PSD-PTB-PR-PTN-PST-PRT e tendo como principal adversário o general Juarez Távora, candidato da UDN em coligação com o PDC, PSB, PL e dissidentes do PSD, Juscelino teve como vice João Goulart, que recebeu 600 mil votos a mais do que ele. Iniciou o governo pensando na pacificação política depois do conturbado período pós-suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954. Suspendeu o estado de sítio e a censura à imprensa. Anistiou todos os envolvidos nos movimentos políticos e militares, como os oficiais da Aeronáutica engajados em rebeliões de 11 de fevereiro de 1956. Na economia, impulsionou a instalação de indústrias, ampliação da infraestrutura e a ligação rodoviária de várias partes do país.
O Plano de Metas de seu governo, como lembra Worney Almeida de Souza na obra “A história dos presidentes do Brasil”, tinha 31 objetivos, divididos em seis segmentos: energia, transportes, alimentação, indústria de base,educação e a construção de Brasília. Com o slogan “Cinquenta anos em cinco”, a gestão de Juscelino Kubitscheck construiu 20 mil quilômetros de estradas de rodagem, iniciou a construção de algumas hidrelétricas como Furnas e Três Marias, incrementou a produção de petróleo e, sobretudo, a indústria automobilística. Para financiar o crescimento rápido, Juscelino buscou o investimento externo, especialmente dos Estados Unidos, Japão e do mercado europeu, principalmente com capital alemão. Também incentivou o empresariado brasileiro a se associar ao capital internacional, o que levou ao aumento dos investimentos no país. Essa política levou a uma acelerada desnacionalização da economia e acarretou críticas ainda hoje formuladas contra Juscelino.
A despeito da polêmica, Brasília consolidou-se e tornou-se irreversível no cenário urbanístico brasileiro. Juscelino Kubitscheck, que planejava voltar nos braços do povo ao governo nas eleições de 1965 foi surpreendido pela cassação dos seus direitos políticos. Em 1966 articulou a criação de uma Frente Ampla com o ex-presidente João Goulart, deposto pelos militares em 64, e o ex-governador do Rio, antiga Guanabara, Carlos Lacerda. Na sessão de instalação do Poder Executivo em Brasília, em 21 de abril de 1960, Juscelino afirmou: “Essa cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros, já elevou o prestígio nacional em todos os continentes, já vem sendo apontada como demonstração pujante da nossa vontade de progresso, com índice do alto grau de nossa civilização”.