Nonato Guedes
O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto “Vox Populi”, em artigo publicado pelo site Brasil 247, afirma: “É preciso encerrar a temporada de perseguição e guerra contra Lula, que culminou na tempestade que estamos atravessando, tendo Bolsonaro para governar o País em um momento trágico”. E completou: “Que Lula esteja sentado à mesa para participar da discussão do Brasil pós-Bolsonaro e desse pós-neoliberalismo ensandecido e incompetente”. Marcos Coimbra começa o ensaio afirmando que a tempestade perfeita que “estamos vivendo” tem dois componentes: a pandemia do coronavírus e Bolsonaro.
– O primeiro é mundial e provoca efeitos semelhantes em todos os lugares, havendo alguma (pequena) variação nas respostas que cada governo oferece. O segundo, evidentemente, é local e apenas os brasileiros têm que enfrentá-lo. O Brasil pode fazer pouco para resolver o problema global, que ultrapassa nossa capacidade isolada. Ainda que tivéssemos condições de lhes oferecer a melhor resposta possível, seus elementos mundiais sufocariam ações apenas nacionais. Já passou da hora de decretar o bloqueio radical de nossas fronteiras, algo que, muito provavelmente, seria inútil e, na prática, inexequível. Na economia, simplesmente não há saída estritamente interna, em qualquer prazo razoável. No máximo, podemos, e devemos, participar da luta global contra a doença e suas consequências sanitárias, sociais e econômicas – acrescenta Coimbra.
Para ele, “o segundo problema só preocupa a nós, pois, ainda bem, Bolsonaro é uma excrescência brasileira, uma espécie de jabuticaba podre. Não existe nenhum chefe de governo portando-se de modo parecido ao do capitão ou falando as mesmas idiotices. Seu mestre e guia, por exemplo, está à sua frente algumas léguas, pois, se há alguma coisa que Trump não deseja é chegar à eleição com cara de palhaço. O componente brasileiro da tempestade precisa ser resolvido rapidamente e depende somente de ações ao nosso alcance. Quanto mais cedo forem implementadas, melhores serão nossas condições para lidar com o componente global e o modo como nos atinge. Tirar Bolsonaro do governo é imperioso e urgente, mas não é tudo”.
Marcos Coimbra ressalta que tão importante quanto tirar Bolsonaro do poder é fazê-lo no bojo de uma ampla restauração democrática, na qual repensemos o que somos e o que queremos ser como sociedade, economia e política. “Não se trata, portanto, de apenas trocar seis por meia dúzia, Bolsonaro pelo vice, por exemplo, por motivo de saúde ou simples ato de renúncia. É preciso mais que uma troca de guarda palaciana, ainda que fosse (como provavelmente seria) para melhor, em termos humanos e intelectuais. Depois da estupidez da última terça-feira, com seu pronunciamento burro e irresponsável, remover Bolsonaro do centro político nacional passou a ser urgente. O que mais fará daqui em diante? Que novas e perigosas imbecilidades dirá ao País? Que mal ainda provocará?”.
– Por menor que seja – avalia Coimbra – o capitão ainda conta com o aplauso de uma parcela da opinião pública. Certamente, está aquém dos 30% que lhe dão pesquisas feitas por telefone, junto a amostras não-representativas da população, mas continua a ser grande. Como, na maior parte dos casos, são pessoas que o consideram bonito, algumas podem achar que lhe devem apoio, arriscando-se indo à rua e colocando em risco quem estiver em casa. De perigo limitado a quem insiste em tocá-lo, o capitão agora tornou-se uma ameaça concreta para todo o Brasil. O modo de fazer a higienização do Palácio do Planalto não está pronto e definido. Algumas coisas são, no entanto, claras. Em primeiro lugar, que não pode representar uma ruptura ainda mais radical com a democracia que aquilo que já estamos presenciando. Conhecemos o destino ao qual chegamos através de desvios autoritários. Em segundo, que existem caminhos institucionais para lidar com momentos extraordinários, através da participação ampla de atores dentro e fora do sistema político, com o único compromisso da adesão à Constituição e aos valores democráticos”.
– Em terceiro – conclui Coimbra – nessa mesa há uma pessoa que não pode faltar: Lula. Goste-se ou não do ex-presidente (e a parte da sociedade que gosta dele é muito maior que a inversa), o fato é que é a principal liderança que há no Brasil, a única que a maioria da população conhece, respeita e admira. É preciso encerrar a temporada de perseguição contra Lula. Que o Supremo cumpra com sua obrigação de corrigir o que gente da laia de Moro e companhia fizeram, devolvendo-lhe a inocência e os direitos políticos. Que Lula esteja sentado à mesa para participar da discussão do Brasil pós-Bolsonaro e desse pós-liberalismo de opereta, ensandecido e incompetente”.