Nonato Guedes, com agências
O presidente Jair Bolsonaro fez em rede nacional de TV na noite de ontem o seu discurso mais contemporizador em relação ao combate ao coronavírus. Falou em “defender vidas”, mas sem prejudicar a economia, pediu união do parlamento, do governo, do Judiciário e da sociedade, não atacou ninguém e listou as medidas adotadas pela sua gestão para combater o avanço da doença, mas não defendeu o isolamento social, que vem criticando há dias e que foi alvo da sua última fala ao país. Há uma semana, também – lembra a revista “Veja” – em pronunciamento na TV, ele acusou a imprensa de estar “espalhando histeria no país” e atacou os governadores e prefeitos que estavam adotando o isolamento social de forma ampla em suas regiões.
O ponto central do seu discurso, ontem, foi, como se esperava, o uso de uma fala do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na segunda-feira, 30 de março, na tentativa de endossar sua tese de que é preciso combater a doença sem provocar desemprego. Bolsonaro reproduziu trecho da fala do especialista que defendeu que as pessoas sem fonte de renda regular ou sem qualquer reserva financeira merecem políticas sociais que garantam a dignidade e que permitam que elas cumpram as medidas de saúde pública para a Covid-19 recomendadas pelas autoridades nacionais de saúde e pela OMS”. No pronunciamento, Bolsonaro tentou mostrar que há semelhança entre o que defende e o que disse o diretor da OMS. “Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que da mesma forma precisamos pensar nos mais vulneráveis. Esta tem sido a minha preocupação desde o princípio”, acrescentou o presidente ao citar trabalhadores informais e autônomos.
Mesmo com o tom mais moderado que utilizou no pronunciamento, Bolsonaro não escapou de panelaços em sinal de protesto contra o seu governo. Habitantes de várias cidades do Brasil foram às janelas para bater panelas e pedir a saída de Bolsonaro da presidência. Nos últimos dias, a preocupação no círculo mais chegado a Bolsonaro passou a ser com seu estado emocional diante do isolamento político que está enfrentando por causa de suas posições em meio à pandemia de coronavírus. Versões divulgadas pela “Folha de S. Paulo” dão conta de que Bolsonaro chorou, durante conversa com interlocutores, no Palácio do Planalto, o que refletiria a sua tensão diante do bombardeio nas redes sociais, na imprensa e nas ruas. Lideranças políticas não escondem sua inquietação com os sinais vindos das Forças Armadas, que temem instabilidade no país.
O mandatário reclamou que sofre críticas incessantes e apontou adversários externos, em especial os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, do PSC. Bolsonaro e os chefes estaduais têm medido forças, com o presidente defendendo medidas de isolamento parcial para grupos vulneráveis à Covid-19, enquanto os outros adotam as recomendações de quarentena da OMS.