Nonato Guedes
Na fase decisiva da chamada “janela partidária” e de prazos legais para transferência de domicílio eleitoral, o vice-prefeito de João Pessoa, Manoel Júnior (Solidariedade), oficializou migração do Título de Eleitor para o município de Pedras de Fogo, no litoral, onde ele já foi prefeito em três oportunidades. A atitude de Manoel Júnior surpreendeu os meios políticos, dada a expectativa de que ele viesse a ser candidato a prefeito da Capital, embora não tivesse o apoio declarado do atual prefeito Luciano Cartaxo (PV), que prometeu apoiar candidatura filiada ao seu partido. A tendência de Manoel Júnior é a de voltar a concorrer a prefeito em Pedras de Fogo.
Analistas políticos observam que Manoel Júnior não “teve sorte” na pretensão de ser prefeito de João Pessoa, que ele alimenta há bastante tempo. Em 2004, candidatou-se a vice-prefeito na chapa encabeçada por Ricardo Coutinho (PSB), que foi vitoriosa. Logo descobriu que não teria espaço nem influência nas decisões administrativas, face ao estilo centralizador de Ricardo. Renunciou, então, ao cargo, saindo candidato a deputado federal em 2006 e vencendo nas urnas com boa votação. Ele voltou a ser vice-prefeito da Capital pelas mãos de Luciano Cartaxo, na segunda disputa que este encarou a prefeito, em 2016. Júnior era filiado ao PMDB e viabilizou coligação em torno da reeleição de Cartaxo. O primeiro vice de Luciano foi o jornalista Nonato Bandeira, atual Secretário de Comunicação do governo João Azevêdo, ex-PPS e agora Cidadania. Bandeira, também, sentiu-se sem espaços na administração de Luciano.
Com todas as limitações enfrentadas, Manoel Júnior ainda logrou ter uma passagem mais pródiga na administração pessoense neste segundo mandato de Luciano, tendo se investido na titularidade em várias oportunidades, geralmente quando de viagens do prefeito. Ao mesmo tempo, no papel de vice-prefeito, cumpriu missões relevantes designadas por Luciano Cartaxo para fortalecer sua gestão em termos de atração de obras e investimentos e o carreamento de recursos oriundos da bancada federal paraibana. O livre trânsito adquirido por Manoel Júnior como deputado federal nos escalões do poder a partir de Brasília levou-o a viabilizar alguns empreendimentos pontuais ou o desentrave de obras que estavam pendentes, mas ele foi proativo, sobretudo, no carreamento de recursos, por conhecer os mecanismos de chegada dessas verbas à ponta, que é o município.
Júnior deixou os quadros do PMDB ressaltando que não havia espaço para se projetar e aspirar à disputa de cargos majoritários relevantes. Ingressou no Solidariedade dentro da expectativa de vir a ser alternativa ao esquema do prefeito Luciano Cartaxo à sucessão deste, mas em nenhum momento o atual gestor admitiu apoiá-lo, insistindo em enfatizar compromisso com uma candidatura do PV, cujo fortalecimento também tem preconizado. O que se diz é que Manoel Júnior arquivou qualquer pretensão na Capital e decidiu refazer sua trajetória política por um município em que foi reconhecido e votado.
Diferentemente de Manoel Júnior, o ex-prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, ficou de decidir até amanhã se permanece nos quadros do PSDB ou se ingressa em outra legenda. Em áreas políticas mencionam-se o “Cidadania” do governador João Azevêdo e o MDB do senador José Maranhão como prováveis destinos de Lucena, o que ele não confirma. No PSDB, o deputado federal Ruy Carneiro, que foi candidato derrotado à prefeitura em 2004, insinua-se para ser novamente candidato e tem focado abordagens em redes sociais e na imprensa sobre problemas de interesse da população pessoense. Cícero Lucena, que foi vice-governador, governador do Estado por dez meses, secretário de Políticas Regionais com status de ministro do governo Fernando Henrique Cardoso e senador, foi eleito prefeito de João Pessoa duas vezes – a primeira em 1996 e a segunda em 2000.