Nonato Guedes
O presidente Jair Bolsonaro fez uma convocação para um jejum religioso nacional neste domingo (5) para o país superar a crise desencadeada pelo novo coronavírus. O chefe do Executivo compartilhou no sábado um vídeo nas redes sociais em que ele e vários pastores pedem para a população ficar um dia sem comer. Na última quinta-feira, Bolsonaro já havia convocado as pessoas a jejuar para que o Brasil “fique livre desse mal”, em referência à pandemia que, no início, ele subestimou completamente, dizendo tratar-se de uma “gripezinha” e depois agindo para atrapalhar o trabalho de prevenção comandado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Na gravação reproduzida ontem, a voz de um narrador anuncia que “os maiores líderes evangélicos deste país atenderam à proclamação santa feita pelo chefe supremo da nação”. De acordo com o vídeo, Bolsonaro convocou o “exército de Cristo para a maior campanha de jejum e oração já vistano país”. Os líderes das maiores igrejas evangélicas do Brasil, como Valdemiro Santiago, RR Soares, Bispo Rodovalho e Edir Macedo aparecem no vídeo. Além disso, os três deputados da bancada evangélica também participam da convocação: Abílio Santana (PR-BA), Silas Câmara (Republicanos-AM) e Marco Feliciano (Sem partido-SP). O último afirma que as pessoas têm de orar “e pedir misericórdia para que essa praga cesse e todas as previsões ruins para o Brasil caiam por terra”. No final, o narrador afirma que neste domingo “a igreja de cristo na terra irá clamar e o inferno irá explodir”.
A secretária especial de Cultura do governo Bolsonaro, Regina Duarte, abraçou a campanha do presidente por “um jejum contra o coronavírus”, mas depois acabou desistindo. Na noite de sexta-feira, a ex-atriz postou em seu Instagram uma imagem que divulgava a “santa convocação” do presidente. Horas depois, no entanto, apagou a postagem. A coluna de Mônica Bergamo, da “Folha de S. Paulo”, procurou Regina para comentar o assunto, mas a secretária disse quenão se pronunciava. A imagem que havia sido postada por Regina era a mesma divulgada pelo juiz Marcelo Bretas no mesmo dia. A sugestão partiu de pastores evangélicos que fizeram pregações religiosas a Jair Bolsonaro na quinta-feira em frente ao Palácio da Alvorada. Um dos pastores presentes pediu para que Bolsonaro convocasse um dia de jejum.
Na Paraíba, o governador João Azevêdo (Cidadania) determinou, ontem, através de decreto, a proibição de carreatas, passeatas e quaisquer eventos que promovam a aglomeração de pessoas em cidades e suas respectivas regiões metropolitanas que tenham casos confirmados da Covid-19. A medida restritiva, de acordo com as explicações do chefe do Executivo, se faz necessária para evitar a propagação do coronavírus no Estado e seu descumprimento poderá acarretar a aplicação de multa de até R$ 50 mil, que serão destinados às medidas de combate ao novo vírus. Na semana passeada, ocorreram carreatas em João Pessoa e Campina Grande, em que empresários e representantes de outros setores da sociedade pediam a volta à normalidade, com o funcionamento das atividades do comércio, devido a alegados prejuízos enfrentados. As manifestações provocaram protestos de algumas pessoas que se mostraram indignadas com a quebra do isolamento social decretado pelo governo.