Nonato Guedes, com agências
O presidente Jair Bolsonaro não esconde a “fritura” em fogo brando com que conduz a permanência do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mas também demonstra receio em demiti-lo em plena crise provocada pela disseminação do novo coronavírus. O ministro tem tido papel exponencial na implementação de medidas preventivas ao alastramento da pandemia de Covid-19, obedecendo recomendações da Organização Mundial de Saúde. Bolsonaro passa recibo de que está agastado com a projeção do ministro. Ontem, sem citar nomes, ele afirmou que integrantes de seu governo “viraram estrelas” e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demissão, deixou claro que não tem medo de “usar a caneta”.
“(De) algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona”, afirmou Bolsonaro a um grupo de cerca de 20 religiosos que se aglomerou diante do Palácio da Alvorada. Prosseguiu o presidente:“Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil. Não é para o meu bem. Nada pessoal meu”. Nos últimos dias, o presidente vem se estranhando com seu ministro da Saúde e chegou a declarar que falta humildade ao seu auxiliar e que ele extrapolou. O presidente tem divergido, entre outros pontos, das medidas de isolamento social apregoadas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. Nos bastidores, Mandetta tem dito a aliados que não pretende pedir demissão e só sairá do cargo por decisão de Bolsonaro.
Pesquisas de institutos como “Datafolha” demonstram que a atuação do ministro é elogiada por grande parte da população brasileira, em contraste com restrições a atitudes do presidente Jair Bolsonaro. Mandetta se esquivou dos recados dados pelo presidente da República, mirando-o. Questionado pela imprensa cerca de uma hora após declarações de Bolsonaro, Mandetta disse que ainda não lido as matérias. “Eu estou dormindo”, disse, parecendo bocejar ao telefone. “Amanhã eu vejo, tá?”, completou, antes de encerrar a ligação com a reportagem de UOL Notícias. Bolsonaro já havia dito que não pretende dispensar Mandetta “no meio da guerra”, mas frisou que “ninguém é indemissível” no seu governo. O protagonismo do ministro na crise tem incomodado fortemente o presidente da República.