Na tensa reunião ocorrida, ontem à tarde no Palácio do Planalto, em Brasília, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reafirmou perante o presidente Jair Bolsonaro todos os conceitos científicos em relação ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus e, em tom desafiador, perguntou ao mandatário: “O senhor quer tocar de outro jeito. Pode tocar! Qual a marcha que o senhor quer, pois vamos passar num desfiladeiro. Como o senhor quer passar: acelerado ou devagar?”, alertou Mandetta, segundo relatos de participantes. Informações dos bastidores da reunião estão no blog de Gerson Camarotti, no G1. O ministro reiterou que vai manter a parceria com governadores de Estados e prefeitos de Capitais e municípios porque são eles que estão executando, “na ponta”, as medidas sanitárias recomendadas pelo ministério.
Mandetta teria falado por cerca de 20 minutos e demonstrou firmeza nas suas colocações, conforme esses relatos. O ministro emendou que Bolsonaro não teria problema nenhum em trocar o comando da Pasta e que tudo estaria encaminhado. “Agora, você não pode brigar com quem você nomeia. Toda a semana tenho que ficar encontrando um jeitinho de arrumar as coisas”, ponderou Mandetta, na sequência. E completou, dirigindo-se ao presidente: “A questão não é se vou ficar. É quando você vai ter condições para me tirar. E quando vou ter condições para sair”. Na reunião no Planalto, o ministro ainda ressaltou haver vários cenários para a pandemia no Brasil. O atual é o de observação quanto ao que vai acontecer – se o vírus vai se comportar de maneira diferente no país. “Temos um plano para cada cenário. O que não pode é ter um plano único”, avaliou.
O ministro também teria alertado que, neste momento, “é preciso avaliar o quanto temos e o quanto é preciso para enfrentar a crise em termos de equipamentos como respiradores, luvas e máscaras”. Quanto à parceria com Estados e municípios, foi enfático: “Não vou tirar a autoridade dos governadores e dos prefeitos. São eles que executam as medidas na ponta”. Mandetta igualmente fez um desabafo em relação aos ataques recebidos de bolsonaristas nas redes sociais. “Não vem para o meu lado, que não gosto disso, não. Não gosto do gabinete do ódio”. Na sequência, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, teria pedido a palavra. Bolsonaro, porém, encerou a reunião.