Nonato Guedes, com agências
O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta chegou sob aplausos a uma entrevista coletiva, ontem, à noite, em Brasília, após rumores de sua demissão que agitaram os meios políticos, militares e expoentes dogoverno. “Nós vamos continuar porque, continuando, nós vamos enfrentar o nosso inimigo, que tem nome e sobrenome: covid-19. Médico não abandona paciente. Eu não vou abandonar”, disse ele. O ministro, que estava acompanhado de secretários, anunciou que, infelizmente, a semana de trabalho começou com mais um solavanco. “Esperamos que nós possamos ter paz para prosseguir. A única coisa que estamos pedindo é que tenhamos o melhor ambiente para trabalhar aqui no Ministério da Saúde”, declarou Mandetta.
O ministro advertiu que estão sendo cobrados da Saúde problemas históricos enfrentados pelo país como a má qualidade dos serviços de transporte e saneamento básico. Ele também expressou que a saída que o país tem ainda é uma medida que ele classificou como “muito primitiva”, a do isolamento social. “Nós não estamos preparados. Nós não estamos prontos para uma escalada de casos nas grandes metrópoles”, frisou Mandetta. A adoção do isolamento, recomendado pela Organização Mundial de Saúde, tem sido a causa de divergência grave entre o presidente Bolsonaro e seu auxiliar. Além do mais, o protagonismo do ministro na crise de enfrentamento ao novo coronavírus tem incomodado Bolsonaro. O capitão chegou a reclamar de ministros que “estão se achando” e insinuou que “falta humildade” a Luiz Henrique Mandetta.
Segundo colunistas do jornal O Globo e da revista Veja, a participação do ministro em uma transmissão com alta audiência nas redes sociais também irritou o presidente Bolsonaro. O ministro apareceu na live da dupla sertaneja Jorge e Mateus, no último sábado, em uma gravação de apenas 50 segundos. Ele pediu que as pessoas evitem aglomerações “para proteger um ao outro” e “para no momento certo a gente poder se abraçar”. A live da dupla sertaneja alcançou uma audiência recorde de mais de três milhões de visualizações e acessos. Conforme a apuração das colunas, assessores do presidente relataram que a participação de Mandetta tirou Bolsonaro do sério. No domingo, Bolsonaro declarou que “algumas pessoas” do seu governo “de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos”. E ameaçou: “A minha caneta funciona”.
A revista “Veja” revela que Bolsonaro “balançou forte” para demitir Mandetta mas no final da tarde foi convencido por militares como os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Governo) de que a melhor decisão seria manter o ministro por enquanto. A possibilidade de exoneração de Mandetta, no entanto, continua em pauta. O deputado federal Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania, a imunologista e oncologista Nise Yamaguchi, e o diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, são apontados como favoritos a ocupar o cargo. Terra, inclusive, já teria ligado para os governadores para anunciar a decisão do presidente. Ele tem defendido posição contrária à de Mandetta na questão do isolamento social. A mais recente pesquisa Datafolha havia apontado que entre os brasileiros que declararam ter votado em Jair Bolsonaro no segundo turno da última corrida presidencial, 82% classificaram como ótimo ou bom o trabalho da pasta comandada pelo médico e deputado licenciado Mandetta (DEM).