Nonato Guedes
A celebração, hoje, do Dia do Jornalista transcorre, no Brasil, em meio ao desafio dos profissionais para repassar à sociedade informações rigorosamente corretas sobre a guerra mundial que está sendo enfrentada – o combate ao novo coronavírus, que tem feito vítimas em diferentes pontos do planeta. No Brasil, jornalistas atuam, em outro “front”, neutralizando os constantes ataques do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), conhecido pelo estilo belicoso no trato com profissionais da Comunicação. Bolsonaro já chegou a dar “banana” para jornalistas, a gritar com alguns deles e a se declarar “em greve” no cercadinho do Palácio da Alvorada, onde instituiu o bate-papo matinal com jornalistas.
A forma desrespeitosa e insultuosa de tratamento do presidente da República para com repórteres, colunistas e noticiaristas já provocou protestos de entidades de representação da categoria, a exemplo da Federação Nacional dos Jornalistas e da Associação Brasileiro de Jornalismo Investigativo, bem como a solidariedade de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil. O assunto já foi dissecado por articulistas de órgãos da imprensa como a revista “Veja” e o jornal “Folha de S. Paulo”, alguns dos alvos prediletos de Bolsonaro, juntamente com a TV Globo. O pingue-pongue de Bolsonaro com a imprensa costuma começar em tom de briga, o que levou o articulista Roberto Pompeu de Toledo, da “Veja”, a sugerir que repórteres esvaziassem o “briefing” ou minimizassem a importância de declarações de Bolsonaro. Para Roberto Pompeu, a ideia de Bolsonaro de “enxertar” apoiadores anônimos para aplaudi-lo nos embates com jornalistas demonstrou estratégia peculiar para livrá-lo de responder a perguntas incômodas.
Mesmo “provocados” por Bolsonaro, os jornalistas não lhe dão trégua nem deixam de formular perguntas que o irritam, ostensivamente. A “Veja”, a “Folha de S. Paulo” e outras publicações têm produzido editoriais apontando desvios de conduta ou irregularidades por parte do governo Bolsonaro e não deixam de mencionar fatos envolvendo “milicianos” que supostamente teriam ligações com filhos e familiares do presidente da República. “Milicianos” são associados, por exemplo, à morte da vereadora e ativista dos direitos humanos Marielle Franco, do PSOL-RJ, que teve repercussão internacional e as notícias a esse respeito desagradam o presidente, afetam o seu humor. A Rede Globo, por sua vez, em reportagens ou editoriais, tem apontado “fakenews” produzidas pelo presidente da República e já respondeu publicamente, em horário nobre, a insinuações de Bolsonaro ou de seus filhos e emissários.
O estilo agressivo de Bolsonaro na relação com a imprensa manifesta-se desde o período em que ele exerceu mandato parlamentar e se confunde com ataques que ele costuma dirigir a outras figuras da sociedade, como, por exemplo, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, que teve ofendida a memória do seu pai. Colunistas que atuam em Brasília afirmam que Bolsonaro considera não haver limites para ele na verborragia que constrói contra repórteres, adversários políticos e outras figuras públicas. O presidente tem o mau hábito, também, de destratar, em público, até mesmo auxiliares do seu governo. Isto tem se refletido, com veemência, quanto ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de quem Bolsonaro tem ciúmes pelo protagonismo que vem obtendo na atual cruzada contra a pandemia do coronavírus. Independente de Bolsonaro, que tem prazo de validade na presidência da República, os jornalistas assumem o compromisso de continuar lutando pelo dogma da liberdade de informação.