Nonato Guedes
O PSB, no segundo governo empalmado por Ricardo Coutinho, que vigorou até 31 de dezembro de 2018, parecia em marcha batida para se fortalecer e ganhar musculatura em João Pessoa a partir do legislativo, cuja bancada respaldaria uma presumível candidatura de RC, novamente, a prefeito da Capital nas eleições teoricamente programadas para outubro próximo. No final de semana encerrou-se a movimentação de filiados com mandato e pretendentes a cargos eletivos, no rescaldo da “janela” que a legislação abriu para facilitar a migração dos “incomodados”, e dos prazos de filiação para o voluntariado em geral. E o que se viu foi que a bancada na Câmara pessoense voou, sumiu, tomou doril.
A dados de hoje, o Partido Socialista Brasileiro, a legenda dos “girassóis”, não conta mais com nenhum representante com assento na Câmara de João Pessoa, o berço político e reduto principal do ex-governador Ricardo Coutinho. Quatro vereadores que simbolizavam suas cores escafederam-se na geleia partidária oferecida pela “janela”. Mesmo a vereadora Sandra Marrocos, que chegou a proclamar confiança na inocência de Ricardo em face das acusações de desvio de verbas da Saúde Pública e da Educação, apuradas em investigação da Operação Calvário, abalou-se com antecedência a migrar – de volta ao Partido dos Trabalhadores, onde já labutou politicamente. O restante se foi na leva da “janela”.
Não é preciso gastar fosfato para identificar causas do eclipse da representação dos “girassóis” no legislativo municipal de João Pessoa. Vereadores que estavam filiados à legenda praticamente encontravam-se dentro de uma “camisa de força”, na qual vivem, ainda, deputados estaduais para quem não se abriu janela nenhuma. Esses vereadores, sem ter nada a ver diretamente com os escândalos levantados pelo Ministério Público, resistiam à hipótese de serem arrastados em caudal do desgaste ético, moral e político enfrentado pelo ex-governador Ricardo Coutinho. A montanha de denúncias, condensadas em delações de ex-secretários que privavam da intimidade e da interlocução do ex-governador, bem como nos depoimentos de operadores de empresas como a Cruz Vermelha, intermediária de acertos de pagamento de propinas a agentes públicos atraídos pelo cheiro da corrupção – tudo isto condenou o antecessor do governador João Azevêdo não apenas ao desgaste ético como ao isolamento como líder político.
A companhia de Ricardo Coutinho – antes cortejada, como se deu em eleições de dimensão estadual, ao governo, em 2010 e 2014, e ainda em 2018, na condição de apoiador, passou a ser indesejável por se constituir em estorvo refletido em desgaste colateral para quem se habilitasse a incensá-lo como profeta de uma nova Paraíba (tal qual se apresentou em disputas memoráveis) ou como expoente de um novo e revolucionário modelo de fazer política, bandeira igualmente apregoada e desfraldada pelo ex-gestor, das margens do rio Sanhauá às franjas do rio Espinharas, nos domínios de Patos. Há remanescentes da Era dos girassóis, como o deputado federal Gervásio Maia, as deputadas Estelizabel Bezerra, Cida Ramos e o deputado Jeová Campos, fiéis à voz de comando emanada por Coutinho. A expansão do PSB, no cômputo geral, a bem da verdade, deu em nada. Para não dizer que o jardim não rendeu, vale o registro de que um empresário de Cajazeiras, irmão de Jeová, filiou-se ao PSB para disputar a prefeitura da terra que ensinou a Paraíba a ler.
É duro subir num palanque para defender um ex-governador que está sob restrição judicial, ostentando tornozeleira eletrônica como parte das medidas tomadas para impedir que uma denominada organização criminosa, tal como apontada pelo Ministério Público, continuasse a atuar com desenvoltura na Paraíba, dilapidando os cofres públicos, sangrando o erário muitas vezes já sacrificado em outras tenebrosas transações. Eventuais “moicanos” que ainda resistem no acampamento girassol nutrem a expectativa de que no final das contas ocorrerá uma espécie de efeito bumerangue, produzindo o que “ricardistas”, à boca pequena, especulam: a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar, como na música de Geraldo Vandré.
O futuro a Deus pertence – isto é público e notório. Mas é possível afirmar que as eleições de 2020, se forem realizadas, não “vão dar” para Ricardo, ou seja, não projetarão o outrora líder que tinha o sonho de sair do governo nos braços do povo, em meio a rapapés e a manifestações ostensivas de reconhecimento por eventuais feitos proporcionados ou protagonizados na Era que parecia não ter fim na pequenina Paraíba. O próprio Ricardo vagueia pelo cenário como zumbi, sem perspectiva de nada e sem carisma algum capaz de atrair, novamente, hordas de adeptos apaixonados. O ano de 2020, mesmo se não houver o pleito, tem a feição de canto do cisne para a aventura ricardista-girassoláica. Seria necessária uma grande reviravolta para desfazer a impressão sombria que paira nas hostes socialistas paraibanas em termos de destino.