Nonato Guedes
A eleição de outubro de 2016 a prefeito de João Pessoa, que consagrou a reeleição de Luciano Cartaxo, então filiado ao PSD, marcou um embate contra o governo estadual, que era bem avaliado em pesquisas de opinião pública. Pilotada por Ricardo Coutinho (PSB), a máquina tinha como representante no páreo a ex-secretária de Desenvolvimento Humano Cida Ramos, atual deputada estadual, que ficou em segundo lugar, com 125.146 votos, contra 222.689 sufrágios atribuídos a Luciano, que teve como vice Manoel Júnior, do PMDB. Ricardo, hoje, enfrenta o desgaste de denúncias sobre desvio de verbas da Saúde e Educação, detectadas em investigações da Operação Calvário, e usa tornozoleira eletrônica por decisão judicial.
Luciano liquidou a fatura da “eleição da reeleição” em primeiro turno. Teve como concorrentes, ainda, o professor Charliton Machado, do Partido dos Trabalhadores, que ficou em terceiro lugar, e o sindicalista Víctor Hugo, do PSOL, último colocado. Falando a jornalistas no dia do pleito, depois de votar, Cartaxo demonstrou confiança no reconhecimento ao trabalho desenvolvido em prol de João Pessoa e chamou a atenção para o fato de ter promovido uma campanha “limpa, propositiva”. A principal bandeira empalmada por Cida Ramos foi o negacionismo das realizações alardeadas por Cartaxo, em paralelo com o aceno de fortalecimento da gestão na Capital mediante parceria estreita com o governo do Estado.
Até então, a relação institucional entre o governo estadual e a prefeitura de João Pessoa era nula. Cartaxo conduziu o primeiro mandato valendo-se de recursos próprios e de recursos obtidos junto ao governo federal e mediante consórcios com a iniciativa privada, graças ao apoio pontual de parlamentares que lhe apoiaram, entre os quais Manoel Júnior. Na disputa em 2012, Luciano foi para o segundo turno contra o ex-senador Cícero Lucena, do PSDB, e logrou vitoriar. Ele já vinha de passagens pela Câmara Municipal, como deputado estadual por João Pessoa e como vice-governador a partir de 2009 na chapa encabeçada por José Maranhão. Originalmente, a carreira política do prefeito fora deflagrada no Partido dos Trabalhadores, do qual Luciano se afastou com a eclosão das denúncias em nível nacional contra líderes petistas.
O confronto entre governo estadual e governo municipal em João Pessoa em 2016 foi destacado pela mídia nacional como peculiar no cenário de disputas travadas em capitais nordestinas. O então governador Ricardo Coutinho testou, em 2012, a candidata Estelizabel Bezerra, pelo PSB, mas não conseguiu transferir votos suficientes para colocá-la, sequer, em segundo turno. Investiu, então, quatro anos depois, em Cida Ramos, proveniente de militância política em circuitos universitários. Cartaxo alcançou êxitos nas duas eleições, conforme analistas, devido à sua postura e a propostas em favor da população pessoense. Contribuiu, também, para esses resultados, o apoio de outros partidos políticos, somado a articulações eficientes na costura de alianças permitidas por lei. Hoje, à frente do Partido Verde e em vias de concluir o segundo mandato, Cartaxo é desafiado a fazer o sucessor, transferindo votos, em contraponto ao que Ricardo, como governador, não logrou viabilizar em duas ocasiões.