Kubitschek Pinheiro
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Nunca antes ou dantes num quartel flutuante, um simples bidê teve tanta importância no longo silêncio dessa quarentena. Aliás, tanta coisa o bidê guardou e nunca dirá nada, em nome da tradição, da religião, da moral e dos bons costumes e, claro da galera do politicamente correto. Pow! Eu disse tudo isso? A Ordem e o Progresso sustentáveis não tem nada a ver com o antigo uso do bidê.
Um simples mico resumiu tão completamente a performance desse bidê, cuja gramática digna de muitas nádegas a declarar à subserviência congênita, ou sobrevivência e não sei mais o quê, porque vai que a moda volta com os charmosos chuveirinhos.
Vai mantendo sua tradição, o velho bidê ao lado do sanitário, com suas válvulas jorrando água potável sobre peles e pelos como se jorrasse palavras, algumas ao vento, até quando provoca risadas, mas tão sérias. É impossível sobreviver ao templo do bidê, já a pandemia… a gente vai levando. Ué, por que estou insistindo nesse tema? Quando acabar a quarentena, eu acho que vou continuar isolado. Os idiotas triplicaram.
Uma semana antes do isolamento, pedi para usar o banheiro ( precisava urinar), de um restaurante no térreo de hotel no centro da cidade, antes de um entrevista e, pasmem, ao entrar no WC, dei de cara com um bidê verde abacate e fiquei puto comigo mesmo, porque não tirei uma foto. Mas pra quê fotografar o que já não existe?
Sem exemplos exagerados à parte, com muita gente tentando se explicar, tanta coisa diferente, sem imaginar que a beleza de tudo está nas ruas vazias, até que a curva se torne menos acentuada, até quando se resolva de uma vez por todas que já passou da hora de desligar a televisão, que ninguém aguenta mais tanta notícia ruim, roubalheira, covas, valas, cadáveres desconhecidos; Socorro, Datana! Não, Datena, não.
Saudades de Tia Mercês. Ela fazia bife de caçarola com a carne da baleia e mesmo assim, eu achava muito ruim. Ah, lembrei na casa da minha Tia Mercês, na Rua Santo Elias, 1977, centro, que tinha um lindo bidê cor de rosa.
A primeira válvula faz pram, porque a última jogava água fora e vão pagar por isso. Eu li que a mesma doença que bota máscara nas pessoas, desmascara outras.
Inesquecível bidê. Quase um videogame, um vaga-lume, um atalho onde um pássaro proibido fez seu melhor voo e um anão de mãos enormes não conseguiu chegar.
Ah!, Eu que não andei pelos quatro cantos do bidê, não esqueço o cara acenando para limpar o para-brisa, me pedindo, “Ei mermão, arruma dois paus pra eu” E eu: só tem um.
Até terça!