Nonato Guedes, com “Veja”
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, do PSDB, 39 anos, enfrenta uma dupla e difícil jornada na atualidade: ao mesmo tempo em que trava uma batalha difícil contra um câncer bastante agressivo, ele dorme no trabalho para tentar administrar a crise do coronavírus na maior cidade do país. Ainda por cima, Bruno tem planos de se candidatar à reeleição este ano. O Estado de São Paulo é considerado como epicentro da Covid-19 no Brasil e o governo dirigido por João Doria (PSDB) montou uma verdadeira operação de guerra, a partir da decretação do isolamento social como estratégia para conter o alastramento da doença. “A grande lição que essa pandemia vai deixar para todos nós é a capacidade de nos unirmos na rede de solidariedade”, definiu Doria em declarações à revista “Veja”.
O governador já se confrontou diretamente com o presidente Jair Bolsonaro numa videoconferência para discutir providências comuns de enfrentamento ao coronavírus. Já Bruno Covas tem intercalado reuniões de trabalho com sessões de quimioterapia. Ele passou a residir na sede da prefeitura paulistana, de onde coordena equipes e esforços para tentar controlar a crise da pandemia na maior cidade do país, que concentra atualmente quase um terço dos casos da doença no Brasil. Os resultados de exames contra o câncer que Bruno realizou deixaram-no animado, mas os médicos avisaram que o sistema linfático ainda registra células cancerígenas, o que redobra os cuidados pessoais do prefeito de São Paulo.
A rotina de Bruno Covas envolve o acompanhamento de providências como a instalação de hospitais de campanha ou o monitoramento da situação de atendimento em unidades e postos de saúde sob administração da prefeitura. Ao mesmo tempo, ele tem participado de entrevistas coletivas juntamente com o governador João Doria. Os dois procuram atuar afinados, levando em conta a gravidade do cenário atual e sua repercussão sobre a população. Neto de Mário Covas, que foi governador de São Paulo, senador e candidato a presidente da República em 1989, Bruno desde cedo revelou-se apaixonado pela política e teve uma carreira precoce – aos 26 anos foi eleito deputado estadual, cargo para o qual ficou por duas legislaturas. Aos 34, tornou-se deputado federal. Estava no meio da legislatura quando foi convidado por Doria para ser o vice na vitoriosa campanha municipal de 2016. Assumiu a prefeitura quando o cabeça da chapa deixou o cargo para disputar o governo estadual.
Mário Covas, avô de Bruno, já falecido, teve uma atuação marcante no país durante o período da redemocratização e salvou o Estado de São Paulo de uma delicadíssima situação financeira nos anos 90. Mário Covas, em plena campanha presidencial de 89, pronunciou um discurso no Senado pregando um choque de capitalismo no país. O discurso teve repercussão positiva junto a setores do empresariado e da classe média e colocou Mário Covas nas projeções como provável postulante à Presidência no segundo turno. A campanha, porém, tomou outra dimensão e acabou polarizada entre Fernando Collor de Mello, que deixara o governo de Alagoas para ser candidato, e o ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, fundador do Partido dos Trabalhadores, com vitória de Collor (alvo de impeachment em 92). Numa triste coincidência, Mário Covas travou longa batalha contra um câncer na bexiga, antes de morrer da doença em 2001.