Nonato Guedes, com agências
A conduta do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus vem desagradando as principais lideranças políticas do país, mesmo as consideradas conservadoras. A fim de discutir a postura do governo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ, está coordenando reuniões com políticos, ministros de tribunais e a cúpula do Senado. Interlocutores afirmam que foi o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que fez a análise mais contundente do futuro de Bolsonaro. Em encontro na residência oficial de Maia, Alcolumbre advertiu que “o governo acabou” e que a “diferença é saber se ele chega a 2022”. Informações nesse sentido foram repassadas pelos interlocutores à revista “Veja”.
As informações vindas de Brasília sinalizam que não obstante as críticas ao presidente, até agora não há indícios de que haja andamento a um processo de impeachment na Câmara Federal. Apesar de 51% da população acharem que Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate ao coronavírius, de acordo com pesquisa do Datafolha, o presidente ainda conta com 30% de apoio popular, de acordo com o mesmo levantamento. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, voltou a criticar o presidente da República por desrespeitar as normas de isolamento social apregoadas pela Organização Mundial de Saúde. Prognosticou que “daqui a pouco (Bolsonaro) vai estar lamentando”.
Enquanto isso, Bolsonaro ameaça processar, por meio da Advocacia-Geral da União, governadores e prefeitos que prenderem infratores, em nova investida contra o combate à pandemia. A nota da AGU não menciona um caso específico, mas mira o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que vem protagonizando embates com Bolsonaro e disse que o Estado poderá prender quem descumprir as regras do isolamento social. O texto assinado pelo advogado-geral da União, ministro André Mendonça, pontua: “Medidas isoladas, prisões de cidadãos e restrições não fundamentadas em normas técnicas emitidas pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa abrem caminho para o abuso e o arbítrio”, observou.
De acordo com a nota, “diante da adoção ou ameaça de adoção” de medidas nesse sentido, o órgão já está preparando as ações judiciais cabíveis e aguarda apenas informações do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para entrar com o processo. Ontem, um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro realizou uma carreata pelas ruas de São Paulo para protestar contra as medidas restritivas e o isolamento social adotados pelo governador João Doria (PSDB) para combater o avanço do novo coronavírus. Os bolsonaristas prejudicaram o tráfego de ambulâncias em pontos centrais da capital paulista. De dentro dos seus carros, os manifestantes – vários deles usando máscaras cirúrgicas, faziam gesto de armas com as mãos, gritavam “Fora Doria” e frases contra o comunismo, do tipo “nossa bandeira jamais será vermelha”.