Nonato Guedes
Primeiro prefeito eleito de João Pessoa, em 1985, na redemocratização pós-ditadura militar, o médico Antônio Carneiro Arnaud – que abandonou a política – foi aconselhado pelo então governador Wilson Braga (PDS) a trabalhar para ser indicado candidato do PMDB ao Palácio da Redenção em 86, sob o argumento de que o esquema oficial não absorveria uma virtual candidatura do senador Humberto Lucena e, nessa hipótese, lançaria candidato próprio para vencer, com apoio da máquina. Em 85, Carneiro foi apoiado por Braga, que indicou como candidato a vice o vereador Cabral Batista. Falava-se na hipótese de um “acordão” que teria desdobramento no ano seguinte, com a chapa liderada por Humberto ao governo tendo Wilson como candidato ao Senado. A aliança não passou da ponte do rio Sanhauá. No final das contas, o candidato do PMDB em 86 foi Tarcísio Burity (vitorioso), com Humberto Lucena disputando a reeleição ao Senado – também vitoriosa. Burity derrotou Marcondes Gadelha (PFL-PDS).
Num depoimento prestado à repórter Valquíria Maria, publicado no suplemento especial “Memória Política”, do jornal “A União”, em outubro de 2000, Carneiro contou que não aceitava a proposta para trabalhar por sua candidatura a governador porque fora escolhido a prefeito como parte da estratégia para fazer Humberto governador. “Se eu fosse manobrar para ser candidato (ao Palácio da Redenção) ia parecer traição. Eu tinha respeito e lealdade à figura do senador Humberto”, narrou Carneiro, que ainda hoje está na ativa à frente da Fundação “Napoleão Laureano”. Ele ainda foi candidato a deputado federal em 1990, mas não se elegeu por falta de recursos e devido à concorrência de postulantes do próprio partido nas suas bases. “Infelizmente, faltou companheirismo”, diagnosticou Carneiro, sobrinho do ex-senador e ex-interventor da Paraíba.
Carneiro chegou a ser deputado federal pela Paraíba em duas legislaturas. Foi um dos fundadores do PMDB e esteve na linha de frente da fundação do PP (Partido Popular), no começo da década de 80, a pedido de Tancredo Neves, que era seu amigo particular e amigo dos seus tios Ruy e Janduhy Carneiro. O médico garantiu ter dito a Tancredo que não tinha prestígio para formar um partido, por ser um político novo com pouco tempo de mandato (estava no primeiro mandato de deputado federal). Tancredo, mesmo ponderando que era modéstia dele, sugeriu que o deputado federal Antônio Mariz fizesse parte do núcleo fundador do PP. O primeiro presidente estadual do partido foi Carneiro e além de Mariz ingressaram na sigla o ex-governador João Agripino, Aluízio Campos, Waldir dos Santos Lima, Edivaldo Motta, Atêncio Wanderley e outros. O PP durou pouco e logo incorporou-se ao PMDB, pelo qual Mariz concorreu ao governo em 82, perdendo para Wilson Braga (PDS).
Na disputa em que se elegeu prefeito de João Pessoa com o apoio do braguismo, Carneiro derrotou o deputado Marcus Odilon Ribeiro (falecido recentemente) que tinha o apoio do ex-governador Tarcísio Burity. O perfil político de Carneiro sempre foi moderado e ele tinha lima explicação para isto: “Acho que não devemos ser exagerados nas posições”. Ele procurava seguir à risca ensinamentos ministrados pelo tio Ruy, considerado raposa política remanescente do PSD. Uma das lições repassadas por Ruy era esta: “Nunca ofenda alguém para amanhã não ter o constrangimento de estar no mesmo palanque com a pessoa ofendida”. Na avaliação do médico, ele foi hábil e se comportou dentro do figurino traçado.