Nonato Guedes
A última cerimônia pública de Dom Aldo di CilloPagotto já como arcebispo emérito da Paraíba transcorreu no dia 16 de julho de 2016 em missa celebrada na Igreja do Carmo, no centro de João Pessoa. Em sua fala final, Dom Aldo disse: “Não vou fugir daqui. Saio pela porta da frente, não por outras portas. Minha profunda à gratidão à Paraíba”. O religioso estava acossado por denúncias de escândalo envolvendo supostos encontros sexuais com padres em casas paroquiais e também enfrentava críticas por posições políticas, como a de participar de atos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Apesar das acusações e insinuações, o assunto não foi colocado em foco durante a celebração pelo Dia de Nossa Senhora do Carmo. O então presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, desembargador Marcos Cavalcanti, ex-Prior da Ordem Terceira do Carmo, mencionou em sua fala que Dom Aldo se afastava por motivos de saúde, o que constava, também, de nota oficial da Arquidiocese. Além do desembargador, compareceram outras autoridades e a igreja estava lotada, como registrou o jornal “Correio da Paraíba”, recém-extinto. O deputado estadual João Gonçalves e o desembargador Júlio Aurélio Moreira Coutinho foram presenças anotadas.
Por ocasião da homilia da solene comemoração da bem-aventurada Virgem Maria do Carmo, Dom Aldo professou aos fiéis e os aconselhou a se espelharem no exemplo de Nossa Senhora do Carmo por sua devoção e castidade, “de acordo com a vontade de Deus”. Ao ser investido, com a renúncia de Dom Aldo, no posto de Administrador Apostólico, o bispo Dom Genival Saraiva de França conclamou os diversos agentes da evangelização a colaborarem com o trabalho pastoral que pretendia desenvolver. Em março de 2019, já em Fortaleza, Dom Aldo Pagotto rompeu o silêncio numa entrevista exclusiva concedida ao “Correio da Paraíba”. Relatou, então, perseguições que, segundo ele, vinha sofrendo dentro da Igreja Católica da Paraíba em virtude de suas posições políticas e que o levaram a renunciar. Contou que foi coagido a escrever carta de renúncia alegando problemas de saúde, avaliou que a Igreja não lhe assegurou amplo direito à defesa e insinuou ter sido traído.
– Acolhi alguns padres que enfrentavam dificuldades no ministério, na esperança de inserção. Fui muito ingênuo. Criei cobra para me picar – desabafou na entrevista, cujos trechos principais foram reproduzidos pelo site “Os Guedes”. Nesse depoimento, Dom Aldo identificou seus “inimigos”: padres e movimentos sociais de linha ideológica de esquerda teriam conspirado para sua queda. Salientou que tentou ser recebido pelo papa, em Roma, para esclarecer fatos apontados por uma investigação conduzida pela Santa Sé mas não obteve êxito no intento. No dia dois de junho de 2016 – conforme sua versão – o Núncio Apostólico chamou-o a Brasília para uma conversa. De forma sumária, citou alguns fatos sobre o “governo pastoral” de Dom Aldo na Arquidiocese da Paraíba e em seguida comunicou-lhe que ele apresentasse carta com seu pedido de renúncia.
O ex-arcebispo contou ter ficado profundamente abalado, tendo pedido ao Núncio para lhe mostrar os autos de um eventual processo jurídico-canônico capazes de comprometê-lo, mas a autoridade respondeu apenas que o material se encontrava nos arquivos da Santa Sé e da Nunciatura, que o papa estava a par de tudo e que, para o seu bem, Dom Aldo deveria escrever o pedido de renúncia alegando motivo de saúde. Dom Aldo admitiu ao “Correio da Paraíba” que um dos episódios arrolados contra ele foi a participação em atos de protesto popular “contra desmandos do governo petista liderado pela ex-presidente Dilma Rousseff”. A autoridade eclesiástica teria lhe chamado, recomendando que ficasse em cima do muro. “Esse tipo de comportamento não faz parte do meu caráter”, replicou Dom Aldo Pagotto.