O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), montou uma verdadeira operação de guerra para levar ao seu Estado em tempo recorde 107 respiradores e 200 mil máscaras compradas da China em março. A logística, envolvendo 30 pessoas, foi traçada para evitar que o lote fosse desviado ou vendido aos Estados Unidos ou confiscado pelo presidente Jair Bolsonaro, como já havia acontecido outras vezes, segundo informa a coluna “Painel”, da Folha de S. Paulo, desta quinta-feira, 16.
Com a ajuda de uma importadora do Maranhão, Dino negociou diretamente com uma empresa chinesa, que enviou os equipamentos e suprimentos médicos para a Etiópia, escapando da rota que passaria pela Europa, onde poderia ser desviada. O secretário estadual Simplício Araújo, da Indústria e Comércio, que coordenou a empreitada, disse que o cargueiro que saiu da China e aterrissou em São Paulo teve o frete pago pela mineradora Vale. Em São Paulo, a carga foi colocada em um avião fretado e enviada direta para o Maranhão, onde passou pela Receita Federal. A estratégia de evitar a liberação na Alfândega em São Paulo foi montada para que os equipamentos não fossem retidos pelo governo Bolsonaro.
Araújo disse à “Folha”: – “Se não fizéssemos dessa forma, demoraríamos três meses para conseguir essa quantidade de respiradores. Assim que os equipamentos chegaram já os conectamos para ampliar a nossa oferta de leitos de UTI”. A operação levou vinte dias, ao custo de seis milhões de dólares. O governador Flávio Dino é tido pelo presidente Bolsonaro como inimigo. Certa vez, ao se referir a “governadores de paraíba” (na verdade, governadores do Nordeste), Bolsonaro enfatizou: “O pior deles é o do Maranhão”. Flávio Dino é cogitado como provável alternativa da oposição e segmentos de esquerda, na disputa pela presidência da República em 2022. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sonha com uma chapa encabeçada pelo PT, tendo Flávio Dino na vice, segundo já foi insinuado.
A propósito de Lula: em entrevista ao jornal “Bahia no Ar”, da Rádio Metrópole, o ex-presidente criticou as brigas políticas do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia do coronavírus, especialmente com os governadores do Nordeste e com seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Temos que consertar o país de uma crise sanitária que o governo não sabe cuidar e de uma crise econômica que já vinha antes do coronavírus e piorou depois. O que eu quero é contribuir para que a gente possa resolver a situação”, frisou. E acrescentou:
– Não é possível um presidente da República determinar que o Nordeste é inimigo. Dá menos dinheiro no Bolsa Família, menos dinheiro de combate ao coronavírus. O papel do presidente é respeitar as instituições, os entes federados e estabelecer uma política harmônica. Ele não pode ficar brigando com todo mundo – declarou Lula. O ex-presidente também criticou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alvo do presidente Bolsonaro. “Ele é um privatista do sistema da saúde e a crise atual do covid-19 mostra que cabe ao Estado cuidar da população”, concluiu. Lula parabenizou os governadores do Nordeste pelas posições adotadas na calamidade.