Nonato Guedes
O prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), está na iminência de enfrentar o mais duro e imprevisível teste da sua carreira de homem público, ao implantar na segunda cidade mais importante da Paraíba medidas de relaxamento do isolamento social previsto em decreto de calamidade pública do governo do Estado por causa da pandemia do coronavírus. A reabertura do comércio e outras atividades consideradas essenciais na segunda-feira tem gerado controvérsias e despertou críticas por parte do governador João Azevêdo (Cidadania), que alertou para os riscos ocasionados por aglomerações em filas postadas diante de agências bancárias e supermercados.
Rodrigues, que está concluindo o segundo mandato consecutivo à frente da prefeitura de Campina Grande, defende-se alegando que não há incidência em escala grave de casos suspeitos ou confirmados de covid-19 no entorno da Rainha da Borborema e justifica que procura estar atento à situação difícil enfrentada pelo comércio e indústria com a paralisação das atividades, dificultando a vida de empresários, comerciantes e comerciários. Diante da repercussão provocada pela sua decisão, ele adicionou “salvaguardas” ao decreto municipal de reabertura do comércio, exigindo a utilização de equipamentos de proteção individual e articulando-se com órgãos de fiscalização para o monitoramento rigoroso das regras referentes ao distanciamento entre pessoas nos ambientes públicos.
Na opinião, tanto do governador João Azevêdo como de outros líderes políticos, o prefeito de Campina Grande está indo na contramão das recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde quanto ao reforço das medidas de prevenção, diante do iminente pico de aceleração do coronavírus nas próximas semanas e nos próximos meses. O governador paraibano, inclusive, anunciou a prorrogação do decreto sobre estado de calamidade, com ampliação de medidas restritivas, inclusive a obrigatoriedade do uso de máscaras faciais em ambientes públicos onde haja movimento ou circulação de pessoas. Azevêdo se disse preocupado com o cenário que possa acontecer a partir de Campina Grande.
Colocado na berlinda, Romero Rodrigues já deixou claro que não está cometendo qualquer ato de irresponsabilidade ou iniciativa impensada. Salientou que a decisão está sendo tomada depois de reflexões e discussões travadas no âmbito do comitê de gerenciamento de crise em Campina Grande, através de videoconferências, com a participação de representantes da CDL e de outras entidades que são porta-vozes de outros segmentos da sociedade. Ele tem dado ciência das providências adotadas por grande parte das secretarias municipais, dentro do esforço conjunto para minimizar incidência de casos de coronavírus em Campina Grande.
O prefeito de Campina Grande, que já foi deputado estadual e deputado federal e que é ligado politicamente ao esquema Cunha Lima, que tem como expressão o ex-senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, é tido como um político moderado e pragmático, mas, em termos administrativos, sofre oposição do grupo liderado pelo senador e ex-prefeito, por duas vezes, Veneziano Vital do Rêgo (PSB), cuja mulher, Ana Cláudia, deverá ser candidata à prefeitura campinense. Romero se identifica, na atual crise, com o presidente Jair Bolsonaro, que tem preconizado ostensivamente a retomada das atividades comerciais. Aliás, Campina Grande foi a primeira e única cidade paraibana que Bolsonaro visitou como presidente da República, para inaugurar um conjunto habitacional destinado a famílias carentes. O prefeito Romero Rodrigues demonstra ter consciência de que o relaxamento do isolamento social em Campina Grande será uma espécie de balão de ensaio, de experimento sobre o que deve ser feito e o que não deve ser feito na atual situação. Isto só redobra a sua responsabilidade, conforme admitem secretários e aliados políticos.