Nonato Guedes
No dia 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados aprovou relatório de comissão especial formada para analisar o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), originário de denúncia feita pelo procurador aposentado Hélio Bicudo e pelos advogados Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. Dilma foi acusada de “pedaladas fiscais”, detectadas pelo Tribunal de Contas da União, o que constituiu, no parecer da comissão, ato de improbidade administrativa em afronta à Constituição. O relatório foi aprovado em plenário por 367 votos a favor e 137 contra, sendo enviado ao Senado, cuja votação, no dia 31 de agosto de 2016, resultou em 61 sufrágios pró-impeachment e 20 contra. Dilma foi substituída no cargo pelo vice-presidente Michel Temer (MDB), que completou o mandato no final de 2018.
Dilma foi afastada em maio após a manifestação do Senado, tendo Michel Temer assumido interinamente. Por três meses, a ex-presidente preparou sua defesa, que, não obstante, não teve acolhida. Após a votação do impedimento, mudou-se para Porto Alegre e tem feito viagens a diferentes países para eventos e palestras em que ainda insiste na narrativa de que foi vítima de um “golpe” articulado por parlamentares adversários, com o apoio do ex-presidente da Câmara, Michel Temer (MDB), que acabou sendo preso em operação de investigação da Lava-Jato e destituído do cargo. O principal líder petista, Luiz Inácio Lula da Silva, endossou a narrativa do “golpe contra a democracia”, mas não garantiu espaços de reabilitação política a Dilma dentro do partido. A ex-presidente ainda foi candidata ao Senado por Minas Gerais em 2018, sendo derrotada. O pedido de apuração de crime de responsabilidade contra Dilma foi aceito em dois de dezembro de 2015.
Primeira mulher eleita presidente da República em 2010, com o decisivo apoio de Lula da Silva, que estava na crista da onda, a mineira Dilma Vana Rousseff, ex-ministra das Minas e Energia e ex-ministra da Casa Civil, disputou o segundo turno em 2010 contra o paulista José Serra, do PSDB, obtendo 56,05% dos votos contra 43,95%. O primeiro governo foi instalado sob a égide da popularidade de Lula e da situação econômica do país, tida como boa por parcelas expressivas da população. A prioridade de Dilma foi o combate à pobreza extrema e, na campanha, ela se apresentou como “Mãe do PAC”, o Programa de Aceleração do Crescimento. Acabou enfrentando manifestações de protesto que tiveram como estopim a tentativa de aumento das passagens de ônibus em São Paulo, mas que significavam mesmo um repúdio à aplicação do plano de ajuste fiscal e suas consequências.
No segundo governo, agravou-se a precarização das condições do mercado de trabalho e das condições sociais para assalariados em geral. Houve forte embate entre forças políticas e econômicas em meio a denúncias de corrupção desenfreada, especialmente em obras da Petrobras. Em outubro de 2015, o Tribunal de Contas da União rejeitou as contas do governo de 2014 por incongruências orçamentárias, num presumido acobertamento do déficit para fechar o ano. Em paralelo, o Tribunal Superior Eleitoral abriu processo investigatório sobre as origens de financiamento da campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer. A situação de desgaste e de isolamento político culminou com a decretação do impeachment de Dilma. Ela chamou Michel Temer de “traidor” e o acusou de ter conspirado nos bastidores para sua derrubada. A dados de hoje, politicamente, Dilma é uma incógnita, não sendo cogitada dentro do Partido dos Trabalhadores como suposta alternativa para tentar voltar à presidência da República. Dilma criou muitas inimizades, dentro do seu partido, junto a outros partidos e, principalmente, no Congresso Nacional. O próprio ex-presidente Lula admitiu em entrevistas que ela tinha profundas dificuldades para lidar com os representantes políticos.