Nonato Guedes
O ex-presidente Tancredo Neves teve maioria apertada de votos na bancada paraibana que votou em 15 de janeiro de 1985 no Colégio Eleitoral em Brasília, na última eleição indireta para presidente no país. Tancredo (PMDB), cuja morte completa 35 anos na próxima terça-feira, logrou alcançar onze votos dos delegados paraibanos credenciados a votar, contra nove dados a Paulo Maluf (PDS). A articulação do apoio a Maluf no Estado foi comandada pessoalmente pelo então governador Wilson Braga, eleito em 1982 derrotando Antônio Mariz. Antes de tomar posse, Braga, em entrevista, chamou Minas Gerais de “gigolô” da economia brasileira e lutou para retirar o Estado do Conselho Deliberativo da Sudene. Foi uma resposta à declaração de Tancredo, eleito no mesmo ano governador de Minas Gerais, de que o PDS havia se tornado “um partido nordestino” por ter vencido em todos os Estados da região. Braga contra-atacou dizendo que a legenda saíra vitoriosa também no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Wilson, que integrara o núcleo parlamentar de apoio ao ex-ministro do Exército Sylvio Frota, demitido pelo presidente Ernesto Geisel sob acusação de conspiração contra ele, por ter preferido o general João Batista Figueiredo à sua sucessão, declarou apoio, na convenção do PDS, à candidatura do ministro do Interior, Mário Andreazza, através de delegados paraibanos do partido. Mas, com a vitória de Maluf, passou a apoiá-lo decisivamente contra Tancredo. Ele chegara a receber Maluf na Granja Santana, residência oficial do governador da Paraíba, antes da convenção do PDS. A disputa Tancredo versus Maluf causou divisão no “clã” familiar de Braga. Sua mulher, a então primeira-dama Lúcia Braga, que se tornou deputada federal constituinte, declarou apoio ostensivo a Tancredo, fato que repercutiu na mídia nacional.
Dos delegados paraibanos ao Colégio Eleitoral os três senadores – Humberto Lucena, Marcondes Gadelha e Milton Cabral, ficaram com Tancredo Neves. Oito deputados federais manifestaram apoio ao vitorioso: Aluizio Afonso Campos, Álvaro Gaudêncio, Antônio Carneiro Arnaud, Edme Tavares, João Agripino Filho, José Maranhão, Raymundo Asfora, Tarcísio Burity. A favor de Maluf ficaram os deputados federais Adauto Pereira, Antônio Gomes, Ernani Sátyro, Joacil de Brito Pereira e os deputados estaduais Afrânio Bezerra, Egídio Madruga, Soares Madruga, Nilo Feitosa, Vani Braga. O deputado estadual João Ribeiro se absteve de votar. No cômputo geral, Tancredo Neves venceu por 300 votos de diferença sobre Maluf. Não conseguiu tomar posse devido a problemas de saúde que o levaram a uma via crúcis por hospitais de Brasília e São Paulo, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. No seu lugar foi investido o vice José Sarney, que comandara uma dissidência dentro do PDS e foi um dos expoentes da chamada Frente Liberal, que resultou na criação do PFL. Embora a eleição fosse indireta, Tancredo participou de comícios por Capitais. Um deles, o de João Pessoa, atraiu um público expressivo na Lagoa do Parque Solon de Lucena.