Nonato Guedes
O ex-senador Marcondes Gadelha (PSC) afirmou hoje, às vésperas do transcurso de 35 anos da morte do ex-presidente Tancredo Neves, que o ex-governador de Minas Gerais era o líder político talhado para conduzir o processo de transição da ditadura militar para a retomada democrática em 1985. Gadelha, que exercia mandato de senador pelo PFL da Paraíba e votou em Tancredo no Colégio Eleitoral indireto que deu a ele a vitória contra Paulo Maluf (PDS), opinou que Tancredo era um exímio articulador político, extremamente competente, e que ninguém conseguia se indispor com ele, por mais que eventualmente divergisse de atitudes suas.
Os comentários de Marcondes foram feitos no programa “Fala, Paraíba”, apresentado por Petrônio Torres e Yvna Souto, na rádio Tabajara, emissora oficial da Empresa Paraibana de Comunicação, levado ao ar hoje. Gadelha recapitulou os momentos históricos que antecederam o lançamento da candidatura de Tancredo à presidência da República em janeiro de 1985, a partir da sua renúncia ao governo de Minas Gerais e da ampla “costura” política que passou a fazer, junto a lideranças políticas, setores militares e segmentos da sociedade, além de ter promovido comícios como parte da estratégia para dar legitimidade popular à sua escolha. “Infelizmente, os problemas de saúde se agravaram e ele não pôde ser investido no cargo”, ponderou o ex-senador, avaliando que o substituto, José Sarney, tentou, nos primeiros meses, cumprir a agenda de reformas traçada por Tancredo mas acabou desviando os rumos do governo e decepcionando parcelas da população.
Marcondes Gadelha votou em Tancredo juntamente com outros dois senadores pela Paraíba – Humberto Lucena (PMDB) e Milton Cabral (PDS). Gadelha mencionou a contribuição prestada por Tancredo à conjuntura política-institucional brasileira em diferentes momentos decisivos, desde o segundo governo de Getúlio Vargas, passando pela sua ascensão ao cargo de primeiro-ministro no Parlamentarismo que teve vida efêmera na década de 60 no governo João Goulart e posteriormente destacando-se como senador e governador de Minas Gerais. O ex-senador acredita que se Tancredo tivesse sobrevivido aos problemas de saúde, teria empalmado com êxito propostas que defendeu em praça pública para a construção do que chamava de “Nova República”. A intensidade das expectativas, a seu ver, justifica o sentimento de frustração verificado com o falecimento de Tancredo Neves.
O ex-senador exaltou a postura moderada de Tancredo Neves, o que, no seu ponto de vista, confirmaria os prognósticos de que ele levaria à frente um governo “sem revanchismo, mas pautado pela conciliação, pelo reencontro da Nação com o Estado”. Salientou, ainda, que Tancredo era muito espirituoso e mencionou duas frases atribuídas a ele, que constam do folclore político nacional: “Mineiro não briga, mas também não faz as pazes”; “O mineiro não é radical; se é radical, não é mineiro”. E a glosa que Tancredo fez de sua própria morte, ao anunciar o epitáfio que desejava para sua última morada: “Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de Almeida Neves”. O político mineiro faleceu aos 75 anos de idade.