Nonato Guedes
A vice-governadora da Paraíba, Lígia Feliciano (PDT), que aniversariou ontem, completando 61 anos de idade, está ausente da tomada de decisões no círculo de poder, cumprindo “quarentena” recomendada a pessoas que integram grupos de risco diante da proliferação da pandemia do coronavírus. Lígia foi eclipsada, também, pela centralização que o governador João Azevêdo (Cidadania) se viu na contingência de assumir em relação às medidas de enfrentamento à doença, não só no que diz respeito à Saúde Pública mas, também, quanto a gestões para minorar impactos econômicos e sociais da crise.
Lígia é médica e no cargo de vice-governadora foi interlocutora do Estado, desde a administração de Ricardo Coutinho, com empresários e autoridades do governo da China, país que é cortejado atualmente por governadores de Estados nordestinos, interessados em adquirir equipamentos e insumos para atender a situações de emergência ocasionadas pela pandemia do coronavírus. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) chegou a empreender uma operação de repercussão que possibilitou a compra de respiradores destinados a pacientes em estado grave por causa da covid-19. Flávio Dino driblou o governo federal no translado dos respiradores, temendo sabotagem por parte de auxiliares do governo Bolsonaro, com quem não tem diálogo. A Receita Federal abriu procedimento para apurar a legalidade da vinda de respiradores provenientes da China.
De estilo discreto, a vice-governadora da Paraíba, que é casada com o deputado federal Damião Feliciano, presidente estadual do PDT, foi elogiada tanto por Ricardo como por João Azevêdo no desfecho de missões administrativas delegadas para contatos com investidores não somente na China mas em outros países, dentro do projeto de atrair negócios que impulsionem o desenvolvimento do Estado. Em termos políticos, ela é respeitada por sua influência e, também, pelo “jogo de cintura” que demonstra. Na discussão sobre a chapa encabeçada por João Azevêdo em 2018, a manutenção do nome dela na vice-governança chegou a ser vetada por Ricardo Coutinho, então no governo, alegando que o “clã” Feliciano estava manobrando contra sua gestão.
A desconfiança quanto a uma suposta conspiração levou o então governador a decidir permanecer à frente do cargo até o último dia do mandato, recusando os apelos para concorrer a uma vaga ao Senado, em que despontaria com grandes chances. Analistas políticos afirmam que Ricardo temia deixar o governo nas mãos de Lígia, pela possibilidade que ela teria de tentar desconstruir sua imagem e, ao mesmo tempo, candidatar-se em faixa própria ao cargo de governador. Para esse projeto, Lígia já tinha confirmação de apoio do “presidenciável” Ciro Gomes, líder e expoente nacional do Partido Democrático Trabalhista. Ações de bastidores refrearam as resistências de Ricardo contra Lígia, que foi mantida como vice de Azevêdo. No começo de 2019, quem rompeu com Azevêdo foi Ricardo Coutinho, praticamente forçando o desligamento do governador dos quadros do PSB. Na crise de enfrentamento ao coronavírus, o braço-direito de Azevêdo está sendo o secretário de Saúde, Geraldo Medeiros, o que não impede o governante de consultar Lígia sobre aspectos das medidas a serem tomadas, conforme fontes oficiais.