Nonato Guedes
Se for levado à frente o processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, que já se articula em setores da sociedade e entre lideranças políticas, e se o afastamento do capitão se concretizar, o general da reserva Antônio Hamilton Mourão tende a ser o terceiro vice-presidente da República a se investir no cargo titular em situação excepcional. A história do Brasil registra, até agora, dois casos de impeachment presidencial nas três últimas décadas – o de Fernando Collor de Mello, em 1992, e o de Dilma Vana Rousseff, em 2016. Com a saída de Collor, que chegou a renunciar na tentativa de evitar o impeachment, assumiu o vice-presidente Itamar Franco, que acabou se projetando com o lançamento do Plano Real, de estabilização da economia, pilotado pelo então ministro Fernando Henrique Cardoso, na sequência eleito e reeleito presidente.
Por ocasião do impeachment de Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente da República, ascendeu à titularidade o vice Michel Temer, que passou o cargo a Jair Bolsonaro. O general Hamilton Mourão, atual vice-presidente, costuma fazer contraponto a Bolsonaro em algumas declarações sobre assuntos polêmicos, mas destaca-se pela postura discreta e sóbria, e reitera, sempre, lealdade ao titular do posto. Ele foi comandante de guarnições militares, é filiado ao Partido Republicano Brasileiro-PRB e regularmente abre a agenda para contatos com políticos que versam, porém, sobre assuntos de interesse público. No último dia 31 de março, por ocasião do aniversário do golpe militar, Mourão afinou-se com Bolsonaro na exaltação ao que chamaram de “revolução salvadora”. Todavia, o vice-presidente já teve que contornar “saias justas” do presidente Bolsonaro e tentar traduzir para jornalistas o significado de certas afirmações e atitudes do número Um. Na questão da pandemia do coronavírus, deixou escapar divergências com Bolsonaro. Mas Mourão se define como “um conselheiro” e ressalta que o seu lema é “o equilíbrio”.
Itamar Franco, que faleceu em 2011 em São Paulo, aos 81 anos, era engenheiro civil e eletrotécnico. Foi prefeito de Juiz de Fora, Minas Gerais, por duas vezes, senador também por dois mandatos e governador mineiro. Aceitou ser vice de Fernando Collor e assumiu a presidência com o impeachment dele numa recessão prolongada e uma aguda inflação. Uma das soluções foi a criação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira. Itamar iniciou a entrega das empresas nacionais com a privatização da Companhia Siderúrgica. Realizou o plebiscito sobre sistema de governo (república, monarquia e presidencialismo ou parlamentarismo). Seu ministro da Fazenda, Fernando HENRIQUE Cardoso, implantou o Plano de Estabilização Econômica que combateu a inflação, promoveu o ajuste fiscal e o déficit público. A moeda foi mudada de cruzeiro para real, com três zeros a menos. O chamado Plano Real entrou em vigor a primeiro de julho de 1994.
Ao tomar posse, Itamar afirmou: “Pretendo dizer à Nação que se encerrou e, esperamos que para sempre, a época dos chefes de Estado com poderes quase imperiais, para começar a era da responsabilidade dividida de fato e não somente de direito entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário na administração do país e no cumprimento do seu destino. Os homens maiores são aqueles que, trazendo os olhos limpos, podem ver a grandeza no horizonte, não como miragem e sim como projeto nutrido na esperança criadora”. Depois da presidência, Itamar foi embaixador brasileiro em Portugal e na Organização dos Estados Americanos. Michel Temer, ao suceder a Dilma Rousseff, constituiu um governo de salvação nacional, abarcando no ministério políticos do PMDB, antigos ministros de Dilma e do PSDB. Temer iniciou carreira política em São Paulo e foi eleito presidente da Câmara Federal por duas vezes. Ao deixar o governo, chegou a ser preso por envolvimento em escândalos ocorridos no seu governo. Na crise atual do coronavírus, ofereceu-se ao presidente Jair Bolsonaro para fazer sugestões sobre medidas que o governo poderia tomar, mas não foi levado em conta.