Kubitschek Pinheiro
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Moro saiu, Moro deu uma carreira, Moro voltará. Ontem Moro roubou a cena e eu fui dormir e sonhei que sobrevoava o Brasil e via as casas na paisagem miniatura, encontrando telhados desconhecidos, para sentir que, mesmo em pandemia, pode-se, sim, acreditar num sonho acordado. Moro me lembra certo fadista, Ai, mouraria….
Dia, noite, tarde, madrugada, amanhece o dia, um dia frio, um dia quente e uma rede armada, e eu mirando brechas naquela quantidade de cenas batidas, na esperança que nasce não se sabe de onde, abraços obstruindo de maneira repetidas e rotas e caminhos (até então) possíveis e desbraváveis. Continuamos no mato sem cachorro.
Havia um, note bem, um apenas, um lugar com os quais a gente sonha e brinca de fazer festa, bancarrota blues com discos e livros, e nós dois, nós três, nós todos, desenhando sinapses do arco-íris para arquitetar o canto onde toda cidade do mundo fosse ser – e fazer – feliz. Uma senhora idosa repete a frase – “eu era feliz e não sabia”. Eu não, eu era feliz, eu sou feliz e não sei, se sei. Estamos em guerra.
Um a um, lugar comum. Numa pequena estrada de asfalto que vira lama quando chove e nós não nos zangamos ou franzimos testa punho cenho, todo o trabalho vira calçar galochas e rimos do nada, Lá vem o homem com seus pés de plástico, mascaras e nada nunca caiu tão bem nos teus, nos meus, de todos nós, olhinhos infantis.
Às vezes acontece de ver o Brasil descendo a ladeira, mas Moraes já foi, outros falam em curvas, muitos empurraram o carro velho, ou esquecem da vida e do lado de lá – embaixo, quem é que precisa de uma mão nesse trem bala, se no meio do silêncio os pássaros estão bem felizes. Bem felizes.
Eu preciso dos amigos, das janelas abertas e do cachorro plantando patas de terra na parede branca e isso não tem a menor importância, acho graça e vez em quando produzo romances e contos e crônicas todos na minha cabeça, enchendo a varanda com a conversa das teclas do computador, nossas referências todas numa larga vontade de que tudo melhore ao som de pratos e colheres.
No eco silencioso de quando se apagam as luzes para irmos dormir tudo que se escuta são as nossas risadas de antes, risadas silenciosas no escuro, a gente engolindo saudades. É melhor ser alegre que ser triste está na canção do poeta. É melhor que engolir o choro. A TV está desligada. Para você que, como eu teme o fim da picada, ainda temos as flores de Vandré. Não, Vandré não. Desculpem, hoje estou sem inspiração.