Numa entrevista que concedeu à revista “Veja”, o deputado federal paraibano Julian Lemos (PSL), que coordenou a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência no Estado e atuou como um dos coordenadores no Nordeste, confirmou o que o presidente revelou, ontem, em desabafo sobre o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro: que se emocionou quando recebeu um telefonema do então juiz, depois de ter sido ignorado por ele num encontro casual. Textualmente, relatou Julian Lemos:
– Eu estava presente na primeira vez que o Jair falou com o Sergio Moro por telefone. Foi depois de um episódio em que o Jair encontrou Moro no aeroporto e não o cumprimentou. Passou direto e o Jair ficou no vácuo. Foi totalmente ignorado. A imprensa estava lá e registrou o episódio. Ele entrou arrasado no avião, ficou no chão, decepcionado. Quando estávamos em Parnaíba, no Piauí, o Moro ligou. Disse que foi um mal entendido e que não o tinha visto. Moro, naquele momento, era o pop star do Brasil. Jair ficou tão feliz que chorou.
Julian Lemos foi um dos primeiros a apostar na candidatura do então deputado federal Jair Bolsonaro. Os dois se conheceram em 2015, quando Bolsonaro, então deputado pelo PP, foi à Câmara Municipal de João Pessoa para uma audiência pública. A presença do controverso parlamentar gerou confusão e quebra-quebra: representantes indígenas, de movimentos de esquerda e grupos LGBT, queriam evitar que ele entrasse no local. A audiência foi garantida por Julian, proprietário de uma empresa de segurança que atuava naquele dia. Não demorou muito para o empresário evoluir de segurança a braço-direito. Era Julian, por exemplo, quem provava a comida de Bolsonaro antes de ele comer, quem dirigia seu carro durante viagens, quem preparava a agenda pessoal e cuidava da segurança particular do candidato. Elegeu-se deputado na cauda do prestígio de Bolsonaro. Mas também foi um dos primeiros aliados a ser deixado pelo caminho. O rompimento se deu em meio a uma intriga de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que acusou Julian de conspirar contra o pai.
Ontem, ao comentar a demissão de Sergio Moro do ministério da Justiça e Segurança Pública, Julian Lemos previu uma “grande instabilidade” no governo Bolsonaro e lembrou ter alertado para a fritura do ex-juiz ainda em janeiro deste ano. Frisou o deputado: “É um momento que traz instabilidade política muito grande porque não é apenas a saída de um ministro, mas de um ministro que simboliza a Justiça. O currículo de Moro inspirou brasileiros antes mesmo do presidente Bolsonaro porque ele reconfigurou a Justiça do Brasil. Eu avisei que ele estava sendo fritado. O trabalho de Moro é excepcional e respondia aos anseios da sociedade, diferente do que o nosso presidente está fazendo”.
Julian Lemos também considerou muito grave a declaração do ex-ministro Sergio Moro sobre interferência direta do chefe do Executivo na Polícia Federal. “O governo, infelizmente, perde sua essência, sobretudo depois das alianças feitas com partidos que eram da base de Michel Temer e Dilma Rousseff e que fazem o presidente se afastar totalmente do seu discurso”, frisou Julian Lemos, que é o presidente do PSL na Paraíba. Na sua opinião, o presidente se encaminha para uma situação de isolamento ao lado dos filhos e poderá ser alvo de um processo de impeachment que culminará com a investidura do vice-presidente Hamilton Mourão. “O próximo a deixar o governo será Paulo Guedes, da Economia”, prognosticou o deputado paraibano.