Nonato Guedes
Numa entrevista concedida à revista “Veja”, que lhe valeu capa e foi publicada na edição de seis de outubro de 2019, o então ministro da Justiça, Sergio Moro, foi enfático ao dizer que seu candidato a presidente da República em 2020 seria o atual presidente Jair Bolsonaro, com quem rompeu ao deixar o cargo, ontem. Ao ser perguntado sobre insinuações de bolsonaristas mais radicais de que estava usando o governo como trampolim para futura candidatura à presidência da República, Moro reagiu: “Eu digo ao presidente que essas notícias sobre uma eventual candidatura minha são intrigas. Ele sabe que eu não vou ser candidato. Primeiro por uma questão de dever de lealdade. Como é que você vai entrar no governo e vai concorrer com o político que o convidou para participar do governo? Também não vou me filiar ao Podemos nem vou ser candidato a vice. Meu candidato em 2022 é o presidente Bolsonaro e pretendo fazer um bom trabalho como ministro até o fim”.
Na mesma entrevista, comentando a intenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de requerer ao Supremo Tribunal Federal a suspeição de Moro à frente da Lava Jato e a suspensão do processo instaurado contra ele, Sergio Moro respondeu: “Estou bem tranquilo com minha consciência quanto ao que fiz. O ex-deputado Eduardo Cunha também diz que é inocente. Aliás, na cadeia, todo mundo diz que é inocente, mas a Petrobras foi saqueada. Sempre que há um julgamento importante, dizem que a Lava Jato vai acabar, que tudo vai acabar. Há um excesso de drama em Brasília. As pessoas pensam tudo pela perspectiva do Lula, embora seja possível que o julgamento do STF sobre a ordem das alegações finais leve à anulação da sentença sobre o sítio de Atibaia. Lula está preso porque cometeu crimes”.
Sergio Moro contestou, igualmente, os ataques à operação Lava Jato: “Não houve excesso, ninguém foi preso injustamente. Opinião de militante político não conta, pois desconsidera as provas. A sociedade tem de consolidar os avanços conquistados pela operação. As pessoas falam em excessos, mas qual foi o excesso da Lava Jato? Essa entrevista do ex-procurador Rodrigo Janot é coisa dele. Não tem nada a ver com Curitiba. É difícil acreditar nessa história. Agora vem essa discussão de que a ordem das alegações finais seria um erro da Lava Jato. Os avanços anticorrupção não são de propriedade de juízes ou procuradores. É uma conquista da sociedade, do país. É o país que perde com eventuais retrocessos”. Rodrigo Janot havia afirmado que teria tentado matar o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal e disse que em seguida iria suicidar-se.
Na fala a “Veja”, Sergio Moro reclamou de tentativas de indispô-lo com o presidente Jair Bolsonaro e frisou que parte das intrigas tinha origem dentro do próprio governo, inclusive da Polícia Federal, que está sob a jurisdição do Ministério da Justiça. Ao analisar as alterações feitas no Congresso ao seu pacote anticrime, Moro descartou a possibilidade de estar sendo vítima de boicote ou retaliação por parte dos parlamentares. E discursou: “O combate à corrupção é uma conquista da sociedade nos últimos anos. O Brasil foi elogiado no mundo inteiro pelos avanços. Algumas pessoas me dizem que recuperaram o sentimento de dignidade de ser brasileiro. É um erro pensar que o combate à corrupção é uma batalha da Lava Jato. Essa é uma tarefa que cabe ao governo, ao Congresso, ao Judiciário, à sociedade civil e à imprensa. Sou apenas um agente da lei, mas cumprir a lei pode ser às vezes um desafio contra interesses poderosos. Os avanços contra a corrupção foram produto da ação institucional. Quem me considera vilão estava do outro lado da lei”.
O então ministro analisava que as políticas implementadas pela sua Pasta já haviam tido impacto no dia a dia da população e criticou quem via nas ações e propostas do governo ameaças à democracia. “O balanço desses primeiros meses de governo é positivo. A taxa de homicídios tem caído. As organizações criminosas estão na defensiva e enfraquecidas. As celas onde estão presos integrantes de organizações criminosas não respondem mais a um comando central. Falam em risco à democracia. É um exagero. O governo não tem o controle do Congresso, não tem o controle do Judiciário. A imprensa fala o que ela quer. Qual é o risco à democracia?”.