Nonato Guedes
Sintonizado com o pronunciamento de outros governadores do Nordeste, o paraibano João Azevêdo (Cidadania) lamentou, em rede social, a eclosão de uma crise política nacional em meio ao enfrentamento ao novo coronavírus, referindo-se à saída de Sergio Moro do ministério da Justiça e às acusações por ele formuladas quanto a ensaios de interferência por parte do presidente Jair Bolsonaro em investigações da Polícia Federal. Textualmente, afirmou Azevêdo: “As denúncias do ex-ministro Sergio Moro são graves e precisam ser apuradas. Em meio ao combate à pandemia do coronavírus, era tudo o que o Brasil não precisava: divisão, acusações e perda de foco no inimigo comum neste momento”.
– Mas nossas instituições precisam estar atentas, também, para preservar a democracia, independente de turbulências políticas e administrativas – ponderou o chefe do Executivo paraibano. Numa troca de mensagens, o ex-ministro Sergio Moro insinuou que o presidente Bolsonaro queria um nome da confiança dele na Polícia Federal diante das investigações contra aliados e familiares. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, do PSB (partido a que Azevêdo já foi filiado), comentou que a saída de Moro reflete a instabilidade do governo federal, mas preocupa também por outra revelação contundente: a ameaça de ingerência política nas ações policiais. “O país precisa de instituições fortes, de soluções que só pode vir da construção democrática conduzida por valores republicanos”, adiantou.
No mesmo tom de João Azevêdo, Paulo Câmara refletiu: “Enfrentar uma pandemia já é desafio suficiente, demanda ação conjunta e integrada, a começar pelo governo federal. É inaceitável a insistência em criar problemas diante de uma crise crescente que ameaça a vida das pessoas. Serenidade e responsabilidade são princípios imprescindíveis. As ações em favor do povo brasileiro merecem respeito e priorização”. O governador do Ceará, Camilo Santana, do PT, frisou: “Mais grave que a mudança no ministério da Justiça são os fatores alegados pelo ministro para essa mudança. Órgãos de controle e investigação como a Polícia Federal devem estar blindados de interferências políticas e atuar sempre com autonomia e isenção, imprescindíveis numa democracia”.
Os governadores da Bahia, Rui Costa, do PT, e do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, também disseram estranhar as versões polêmicas que vieram à tona no bojo da exoneração do ministro Sergio Moro. Costa disse não entender as razões para interferência nas investigações da PF e questionou se o motivo para a substituição do superintendente, Maurício Valeixo, estava vinculado a apurações contra aliados do presidente da República. “Por que o medo? Fakenews? Por que não focar na guerra para salvar vidas?”, indagou Rui Costa. Já Flávio Dino escreveu: “Deputados investigados pela Polícia Federal. Então, diz Bolsonaro a Moro: “mais um motivo para a troca”. Juridicamente é uma prova que confirma a delação de Moro: a demissão de Valeixo foi para embaraçar investigações (obstrução à Justiça)”.