Nonato Guedes
A primeira entrevista que o juiz Sergio Moro concedeu a um veículo impresso desde que aceitou o convite para integrar o governo Bolsonaro como ministro da Justiça e da Segurança Pública foi à revista “IstoÉ”, publicada em 21 de novembro de 2018. A entrevista mereceu capa com as seguintes frases do futuro ministro: “Lula é o mentor do esquema criminoso na Petrobras. O tríplex é a ponta do iceberg”. Ele informava, também, que apesar de o STF já permitir, iria propor que o cumprimento da prisão em segunda instância assumisse força de lei. Moro falou a Germano Oliveira, da “IstoÉ”, na antiga sala da Décima Terceira Vara Federal do Paraná, que ocupava há 15 anos, e onde ele ganhou projeção ao comandar a Lava Jato, a mais profunda operação de combate à corrupção e ao crime organizado, desenvolvida no Brasil. A entrevista sinalizou a despedida de Sergio Moro como titular daquela jurisdição e como expoente do Judiciário, onde se consagrou em vinte e dois anos de militância.
Uma das metas de Moro, na mudança para Brasília, era reforçar o seu time no ministério da Justiça com integrantes da Lava Jata. “Seria um tolo se não levasse gente da Lava Jato, pessoas que já comprovaram competência e dedicação, mas muitos teriam que abandonar suas carreiras para me seguir”, comentou Moro. A maior angústia do juiz, porém, era outra: deixar para trás dezenas de processos da Lava Jato que ainda não estavam concluídos. Quando desencadeou a operação em 17 de março de 2014, Moro não imaginava chegar tão longe. Mas, quando decretou a prisão do doleiro Alberto Yousseff e com ele encontrou o documento da compra de uma Range Rover Evoque em nome de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, percebeu que o caso poderia atingir proporções muito maiores. Costa revelou em delação que a Petrobras era usada pelo governo Lula para o pagamento de propinas a políticos tanto do PT como do PP e PMDB.
Conforme destacou a reportagem da “IstoÉ”, Moro estava diante apenas do fio de um extenso novelo que alcançaria o maior esquema de corrupção da história do país. A Lava Jato evoluiu de tal maneira que levou o juiz a condenar importantes dirigentes do PT, o mais importante deles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba no começo de 2018 por ter recebido vantagens da OAS, entre as quais um tríplex no Guarujá em troca de polpudos contratos na Petrobras. Lula já havia manifestado inconformismo com a condenação imposta a ele. Mas Moro reagiu nessa entrevista dizendo que a sentença fora extensamente fundamentada e acrescentou: “As provas indicam que Lula é o mentor desse esquema criminoso que vitimou a Petrobras. E não se trata só de um tríplex. Nós falamos de um rombo de R$ 6 bilhões. O tríplex é a ponta do iceberg”.
Sobre as acusações de perseguição política e eventual relação de causa e efeito com a campanha presidencial de 2018, Sergio Moro reavivou que a sentença no caso do tríplex foi proferida em meados de 2017. “O que existe é um álibi de Lula, baseado numa fantasia de perseguição política”. Ademais, a decisão de condenar o petista a nove anos e meio de prisão, reforçou Moro, foi mantida pela Corte de Apelação (o Tribunal Regional Federal da Quarta Região), que não apenas endossou as suas fundamentações jurídicas como ampliou a pena para 12 anos e um mês. “A partir daí, a decisão não é mais minha”, disse. Hoje, o ex-presidente Lula mantém-se em liberdade, nos termos do que foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal, e, sempre que possível, nas entrevistas ou declarações, trata Sergio Moro como algoz e parcial.
Na primeira entrevista, Moro foi enfático: “Não serei candidato a presidente da República. Não tenho nenhuma pretensão de participar de campanhas eleitorais, nem de subir em palanques”. Ele também declarou que crime de corrupção é muito difícil de ser descoberto e investigado, porque é um crime praticado em segredo. E propôs: “Tem que se criar sistemas de controle e prevenção para detectar esses fatos. Agora, o que eu posso assegurar, porque isso me foi afirmado pelo presidente eleito, é que ninguém será protegido. Identificados os casos de corrupção no governo, ninguém será protegido. Esse é um compromisso meu. Não vou assumir um cargo desses para proteger alguém”. Quando foi indagado sobre a perspectiva de assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, Sergio Moro deu a seguinte resposta: “Não existe uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Ela ocorrerá só em 2020. Seria indelicado de minha parte pensar numa nomeação para o Supremo agora”.