Fruto da ousadia e do empreendedorismo do empresário Roberto Marinho, já falecido, a Rede Globo completou, ontem, 55 anos e, na opinião do executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, 84 anos, está preparada para o futuro, ainda ocupando papel de liderança. Boni, considerado o pai da Globo e o mais importante executivo da história da televisão brasileira, está longe da emissora desde 1998. Durante os 31 anos em que ficou à frente do canal, era o corpo, a alma e a mente da programação, como descreve Ana Cora Lima em matéria no “Na Telinha”, a quem José Bonifácio concedeu entrevista exclusiva, dizendo que para ameaçar a liderança da Globo na audiência um concorrente precisaria montar um novo modelo de televisão.
De acordo com Boni, a Globo não tem concorrência porque, na prática, os concorrentes não existem. “Para fazer concorrência à Globo é preciso fazer o que a Globo fez: contratar gente do ramo, profissionais experientes e de comprovado sucesso. Eles teriam que montar um novo modelo de fazer televisão como a Globo fez naquela época”, conta José Bonifácio, que atualmente é dono da TV Vanguarda, afiliada da Globo no Vale do Paraíba e região. O executivo deixou claro que não mudaria nenhuma decisão durante o período que esteve na Globo e nega que a TV aberta esteja ameaçada. “Enquanto houver só notícia para ser dada, um acontecimento ao vivo, programas de conteúdo atualizados diariamente, a televisão aberta estará viva”, prognosticou. Porém, pondera que com o advento da tecnologia 5G muita coisa vai mudar, e completa: “Não sabemos onde vai parar. Mas, vou insistir: a única coisa que continuará realmente tendo importância será o conteúdo”.
Boni chegou a citar nomes de pessoas qie, junto com ele, lutaram para tirar a Globo da posição de quarta emissora do Rio e quinta colocada em São Paulo, transformando a emissora em uma das maiores redes de televisão do mundo. Disse: “Muita coisa boa foi feita depois da minha saída, mas nós éramos mais impacientes e muito menos conservadores”. Para Boni, televisão é imprescindível no conjunto de veículos de comunicação, sendo, mesmo, o mais confiável dos meios. E citou: “Recentemente, na crise do coronavírus, pesquisa do Datafolha aponta a televisão como meio de maior credibilidade. Vai existir um convívio tranquilo entre a televisão aberta e os exibidores de enlatados que não substituem a televisão, mas as extintas locadoras de vídeo. Por isso, digo que a televisão aberta estará viva”.
Indagado sobre como vê a flexibilidade da Globo em citar os nomes de outras emissoras, o que no passado parecia impossível, Boni declarou: “Nunca houve veto à citação de outras emissoras ou outros órgãos de imprensa. O que era proibido era citar programas ou artistas da linha de entretenimento para evitar promovê-los. Também só cedíamos artistas em casos excepcionais e, por outro lado, artistas de outras emissoras não podiam ser convidados. Uma estratégia necessária para a Globo, que estava entrando no mercado e tinha que conquistar o seu lugar. O jornalismo estava liberado. Um exemplo é a Fórmula 1, que quando estava na Bandeirantes era citada sempre que recebíamos cortesia de imagens. E também nos gols da rodada ou outros eventos quando outra emissora cedia imagens. Hoje, líder absoluta, a Globo pode liberar tudo que não faz diferença”. Boni disse que o seu maior orgulho, o legado que deixou para a Globo, foi a própria Globo. “Ela não existia. Nós inventamos a Globo no momento em que ela estava à beira da falência e em litígio com o grupo Time-Life”.