Nonato Guedes
O senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo (PSB) criticou as posturas adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento ao coronavírus, desrespeitando recomendações da Organização Mundial de Saúde com referência, por exemplo, a regras de distanciamento social. Segundo Veneziano, as atitudes de Bolsonaro deixaram o Brasil fora da Aliança Global criada pela OMS para acelerar a produção e distribuição de tratamentos para lidar com a pandemia do coronavírus e garantir a chegada de uma vacina ao mercado em tempo recorde, com um fundo de R$ 45 bilhões.
– A ausência do Brasil foi motivada pelas posturas do presidente, sendo contrário a orientações das autoridades de saúde de todo o planeta quanto à prevenção e aos cuidados da população, inclusive na adoção do distanciamento social. Nos últimos dias, Bolsonaro não apenas tem emitido opiniões contrárias ao que prega a Organização Mundial da Saúde e os órgãos de saúde, mas tem saído às ruas e mantido contato direto com as pessoas, sem qualquer precaução no uso de equipamentos de proteção – adiantou Veneziano. O parlamentar lembrou que historicamente o Brasil sempre liderou os temas e os debates relacionados ao acesso a medicamentos e tratamentos inovadores, apoiando a ciência e as pesquisas. “Todavia, no atual governo, o que se vê é um completo desmantelamento da pesquisa no Brasil, com corte de verbas e, mais que isso, o próprio presidente manifestando-se contra o que pregam a OMS e os órgãos de saúde do mundo inteiro”.
Presidentes e lideranças de vários países dos cinco continentes, conforme informou o senador paraibano, participaram da reunião ocorrida sexta-feira para a criação da aliança. O Brasil não foi convidado devido às posturas do presidente, e a presidência da República sequer sabia do encontro, num claro sinal da irrelevância que a diplomacia brasileira conquistou neste governo. Veneziano lembrou que o papel central da Organização Mundial da Saúde na resposta contra a pandemia é reconhecido por 179 dos 193 países da ONU. O Brasil se recusou a reconhecer a Organização Mundial da Saúde e integra o bloco da minoria. O evento firmou um compromisso de que qualquer tratamento ou vacina que seja criada será alvo de um esforço internacional para que seja disponibilizada a todos os países, evitando erros do passado, como no caso da AIDS, citado durante o encontro. Um fundo de US$ 8 bilhões foi lançado para financiar a produção e distribuição de remédios, o fortalecimento dos sistemas públicos e toda a resposta contra a doença.
Veneziano afirmou que levará a discussão a respeito para a sessão remota do Senado programada para hoje (27) quando fará um alerta para a pouca importância que o presidente da República tem dado ao debate internacional sobre o coronavírus e os prejuízos que o país acarreta com essa postura, ao rejeitar qualquer tipo de diálogo para uma resposta global à pandemia. “É lamentável que o Brasil, por força dos comportamentos adotados pela Presidência, não tenha sido convidado a fazer parte desta importante aliança. O pior é que o maior prejudicado é o povo, que tem feito a sua parte, tomando os devidos cuidados, mas ficando à mercê de posicionamentos irresponsáveis de quem dá demonstrações de estar pouco ou nada preocupado com o debate global”, alertou o senador socialista.
Durante o mega evento internacional, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu que tratamento e vacinas cheguem a todos os lados e indicou que combater o vírus “vai exigir maior investimento da história” na saúde. “Estamos combatendo a luta de nossas vidas”, declarou o português, pedindo que, neste momento, a política seja colocada de lado. Veneziano lembrou que o tema de acesso a remédios foi tradicionalmente uma bandeira de diferentes governos brasileiros. No início do século, aliado ao governo francês, o Brasil estabeleceu um mecanismo para permitir acesso a remédios aos mais pobres, a Unitaid. Desta vez, porém, Paris assume a bandeira sem a presença do governo brasileiro. “O que é lamentável e mostra o descaso deste governo com um tema tão importante neste momento que estamos enfrentando”, concluiu o parlamentar.