Da Redação, com “O Globo”
Após minimizar diversas vezes os riscos do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira que a responsabilidade das mortes registradas até agora é dos governadores de Estados e não dele. A declaração foi feita um dia após Bolsonaro responder “e daí?” e perguntar o que ele podia fazer depois de ser questionado sobre novo recorde de mortes pela Covid-19 no país, que já passam de cinco mil. O presidente argumentou que, como decidiu o Supremo Tribunal Federal, governadores e prefeitos têm autonomia para decidirem sobre medidas restritivas no combate ao coronavírus e, por isso, eles precisam explicar por que as mortes continuaram mesmo após essas medidas serem tomadas.
– Questão de mortes, a gente lamenta as mortes profundamente. Sabia que ia acontecer. Agora, quem tomou todas as medidas restritivas foram governadores e prefeitos – disse Bolsonaro, acrescentando depois: “Essa conta tem que ser perguntada para os governadores. Perguntem ao senhor João Doria, ao senhor Bruno (Covas), de o porquê terem tomado medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que explicar. Vocês não vão colocar no meu colo essa conta”. João Doria, do PSDB, é governador de São Paulo, e Bruno Covas, também tucano, é prefeito da capital paulista. O governador de São Paulo chegou a travar uma discussão ríspida com Bolsonaro em videoconferência deste com governadores para discutir medidas de enfrentamento ao coronavírus.
Hoje, indagado com ênfase pelos repórteres se não tinha nenhuma responsabilidade sobre as mortes, o presidente respondeu: “A pergunta é tão idiota que eu não vou responder”. Bolsonaro voltou a criticar a imprensa pela cobertura da pandemia. Ele disse que não aceita que seja atribuída a ele a culpa pelas mortes que ocorrem no país. “Não adianta a imprensa querer botar na minha conta essas questões que não cabem a mim. Não adianta Folha de São Paulo, O Globo aí que faz uma manchete mentirosa, tendenciosa, querer colocar a culpa em mim “.
– O senhor não falou aquilo ontem? – indagou um repórter.
– Você não botou o complemento. Vocês não têm moral. A Globo não tem moral, tá certo? Não tem moral. Botou só o “e daí?” Você é um mentiroso. A Globo é mentirosa.
Ao ser perguntado qual complemento estava faltando, o presidente respondeu e fez novos ataques a O Globo: “Complemento que eu lamento. Tá lá, eu falei. Mesmo fazendo entrevista, eu perguntei, tinha pelo menos duas TVs ao vivo, mesmo ao vivo….” O Globo informou que em reportagem publicada no site na terça-feira à noite e no jornal impresso desta quarta-feira registrou o primeiro comentário de Bolsonaro: “E daí? Lamento…” E, também, sua frase ao final da entrevista, depois de saber que havia transmissão ao vivo, se solidarizando com a família das vítimas. Bolsonaro havia complementado: “Eu sou Messias, mas não faço milagre”, referindo-se a um dos seus sobrenomes. O presidente já minimizou diversas vezes os riscos do coronavírus. No início de março, por exemplo, disse que a doença era “muito mais fantasia”. Depois disse que a Covid-19 não iria matar mais de 800 pessoas no Brasil e que “brevemente” a população iria saber que foi enganada por governadores e pela imprensa. No dia 12 de abril, disse que “parece que o vírus começa a ir embora”, mas os casos continuaram crescendo.