Nonato Guedes
Em meio a cenas de desatino protagonizadas em diferentes localidades e regiões do Brasil, provocadas por despreparo e desespero no enfrentamento ao coronavírus, deu-se em Campina Grande, segunda cidade da Paraíba, o cúmulo da insensatez: comerciários ajoelhados em frente a lojas, num ato premeditado para pedir a volta das atividades, em virtude dos prejuízos econômicos que são latentes e da fome que já ronda milhares de lares em todo o país. Segundo o portal “Wscom”, o ato público pela reabertura do comércio em Campina, verificado na segunda-feira, 27, entrou nos trendingtopics – assuntos mais comentados – do Twitter, no país. As imagens de funcionários ajoelhados chocaram os internautas e a repercussão foi generalizada nas redes sociais.
Pelo que revelou em nota o Sindicato dos Comerciários de Campina Grande e Região, muitos funcionários participantes do ato foram coagidos a esse protesto por empresários, chefes de algumas empresas, debaixo da ameaça de perderem os postos de trabalho. Se isto tiver, de fato acontecido, configura ato de chantagem explícita, que pede a aplicação de penalidades na forma da lei. Além da chantagem forçada, uma forma de imposição de “trabalho escravo”, ficou caracterizado um movimento que desrespeita as orientações dos organismos de Saúde Pública e as medidas rigorosas de prevenção e segurança no combate ao coronavírus, para que não se venha a pôr em risco a saúde dos comerciários e, por extensão, de toda a população.
Há relatos de que funcionários, além de desrespeitarem o distanciamento social expressamente recomendado, foram aconselhados a ficar ajoelhados no chão para “orar pela reabertura do comércio”. Os empresários que patrocinaram esse espetáculo humilhante e aviltante à dignidade humana envergonharam a população da própria cidade de Campina Grande. Não foram poucos os internautas ali residentes que se manifestaram pedindo desculpas pela manifestação vergonhosa e ultrajante. Um desses internautas, ao postar a imagem, ponderou: “Se isso não te enoja, você já morreu e não sabe”.
Mesmo em situações dramáticas como a que se está vivendo em todo o mundo, devido à pandemia do coronavírus, há espaço para a sensatez ou a racionalidade na tomada de decisões. Não é o caso de ignorar a extensão do drama econômico como corolário da pandemia – mas a busca de alternativas deve ser acompanhada de diálogo e de muita serenidade por parte dos agentes públicos e dos segmentos influentes na sociedade. Em termos de maus exemplos, já bastam os que têm sido proporcionados quase diariamente pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, ele mesmo um contumaz infrator da lei e das recomendações médicas ditadas por especialistas em Saúde Pública e por autoridades do próprio Ministério da Saúde do seu governo. Acreditem! Bolsonaro não é líder a ser seguido na desesperadora calamidade que o Brasil enfrenta. Ele demonstra sobejamente que é uma figura tóxica. Faz mal à saúde, portanto!