Kubitschek Pinheiro
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Chove e faz sol e há tanto azul lá fora. Tanto céu aberto, tanta saudade do mar. Tanto voo de pássaros como eu nunca tinha visto. Tanto verde crescendo para o sol. O jardim da nossa casa é tão bonito! Tanta flor abrindo-se para a manhã e um silêncio deserto. Sensação milenar.
Tanta rua larga para lado nenhum, com os carros que tentam voltar para o lugar de sempre. Tantas casas com portas fechadas. A casa de Penha (nossa “antiga” vizinha) nunca mais foi aberta. Ainda penso que ela está na calçada. Ontem eu soube que Penha quando era jovem foi cobradora de ônibus. Penha era uma danada!
Tanto beco sem saída, tanto candeeiro aceso pra nada, tanta inutilidade nos sinais de trânsito com operários famintos misturados a mendigos, nunca inimigos.
O Rio Jaguaribe está tranquilo, quero chorar e tenho lágrimas e um bando de lagartixas relaxadas nas paredes no muro. A transparência das águas passadas que movem moinhos e o excesso de peixe livre das redes. A vida é tão bonita, a vida presta, a vida trai a gente, a vida está passando mais depressa, mais depressa que os horrores que nos cercam.
Onde está a porta? Onde fica o corredor que me leva para os livros? Onde fica a cidade? De onde vem o ar a entrar nas narinas. E aquela brisa acariciando-nos a face?
Somos vultos na cidade onde o tempo, como disse Vinicius, é agora. Meus passos se dispersam dentro de casa, como se aqui fosse a cidade que se compõe sua plena música.
Andamos sobre violentas memórias e até nos perdermos, inspirados, ansiosos, velejados.
Onde estão meus amigos? Os abraços, os apertos de mão, as caricias? De mim sei pouco… dos outros sei menos! Quase nada!
Até terça!