Nonato Guedes
Reproduzindo o que acontece em âmbito nacional, em João Pessoa o processo à sucessão do prefeito Luciano Cartaxo (PV) entrou em banho-Maria desde que um valor mais alto se levantou: a pandemia do novo coronavírus, que mobiliza as atenções generalizadas diante dos reflexos à Saúde Pública e das consequências que estão sendo ocasionadas ao emprego e renda no país, no contexto da paralisação de atividades produtivas. Um dos pré-candidatos à prefeitura da Capital, o deputado federal tucano Ruy Carneiro, chegou a ser incisivo ao exortar que não o chamem para intrigas políticas, aludindo a fofocas e decisões de bastidores cujo cerne seja a disputa eleitoral. Diz o parlamentar que seu foco é no mutirão de medidas para o enfrentamento à doença.
Na verdade, somente o calendário eleitoral administrado pela Justiça não está congelado. Dirigentes do Tribunal Superior Eleitoral e dos tribunais estaduais entenderam que é possível manter a regularidade dos prazos e das resoluções pertinentes à preparação do pleito programado para outubro pela via da comunicação remota – mecanismo que tem sido utilizado pelo Congresso Nacional para aprovar decretos e medidas provisórias de emergência e por Assembleias Legislativas, em casos de autorização de operações por parte dos governos estaduais no cenário da calamidade que exige equipamentos, garantia de leitos em UTIs, condições operacionais para médicos, enfermeiros e enfermeiras, técnico(a)s e outros integrantes de um exército engajado na guerra para salvar vidas.
A Justiça Eleitoral, não obstante, está atenta à eventualidade de um presumível adiamento do pleito – no mais tardar, para dezembro, se a curva de aceleração da covid-19 prosperar numa escalada ainda mais assustadora, de tal modo que seja imperativa a continuidade da adoção de medidas de isolamento social de forma mais rigorosa, contendo-se aglomerações, que, por sua vez, constituem corolário de disputas políticas, na caça dos votos dos eleitores. O que não sensibiliza as autoridades da Justiça Eleitoral, como evidenciou em entrevistas o presidente do TRE da Paraíba, desembargador José Ricardo Porto, é a perspectiva de prorrogação dos atuais mandatos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. A providência é considerada antipática e oportunista. Por isso mesmo é considerada apenas, e à boca pequena, em alguns círculos políticos, onde está sendo aventada a hipótese de uma prorrogação inferior a dois anos, com prefeituras sendo ocupadas por juízes de Direito ou juízes eleitorais, a fim de evitar o vácuo institucional de poder.
Em relação ao esquema do prefeito Luciano Cartaxo, cabe notar que o alcaide (que está no segundo mandato) vinha relutando, desde o final do ano passado, por outras razões, em sinalizar cogitações de nomes ou indicar preferências de candidaturas à sua sucessão. Repetiu, por diversas vezes, que o seu foco estava concentrado na administração, equivale dizer, na execução de obras e na elaboração de novos projetos para beneficiar a população pessoense, bem como na garantia de recursos, por parte do governo federal, do governo estadual e de segmentos da iniciativa privada, para respaldar o pacote de realizações. Quando desabrochou a pandemia do coronavírus, até o planejamento de obras e serviços foi alterado para que a administração passasse a focar na emergência, no atendimento sem trégua a uma população assustada com o pico da covid-19.
Além de Cartaxo, outros atores tidos como decisivos no processo eleitoral à sucessão pessoense sequer avançaram em estratégias ou discussões preliminares para a eleição. Este é o caso do governador João Azevêdo, que sequer teve tempo de acompanhar a estruturação do novo partido no qual ingressou – o Cidadania, por regiões estratégicas da Paraíba. Tampouco teve tempo de estreitar laços com partidos que integram a base de sustentação do governo, no exame de alternativas para o conjunto de forças que vão dar combate à miríade de opositores. O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), rompido com Azevêdo, não evoluiu na recomposição da legenda diante das defecções enfrentadas, até por dificuldades de mobilidade, provocadas pelo uso de tornozoleira eletrônica, em cumprimento a determinação judicial.
No geral, a atmosfera é de inércia, de completa desmotivação diante da conjuntura de grave crise sanitária que o mundo experimenta. Normalmente loquazes nas tratativas pré-eleitorais, os políticos estão atados por fatores alheios à sua vontade. Não desejam, em paralelo, pagar o ônus de oportunismo num momento difícil em que tudo o que a sociedade precisa é da solidariedade. Para o universo político está valendo a máxima que sempre foi externada como mantra: “Não há pressa”. E por um motivo simples: não adianta apressar o que não está ao alcance de atores políticos. A velha paciência é a grande conselheira nesta fase excepcionalíssima da vida pública brasileira.