Nonato Guedes
Hoje é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa – e a Associação Nacional de Jornais enfatiza que é no jornalismo responsável que as pessoas se sentem seguras. A ANJ revela que como exemplo disso é o aumento de 72% detectado na procura de informações de credibilidade nos sites e outros meios de comunicação sobre o novo coronavírus. A entidade identifica nessa busca um esforço de setores da sociedade em contornar notícias falsas que circulam sobre a origem e os meios de enfrentamento à pandemia de covid-19. Afinal, tem sido fértil a proliferação de “fakenews”, sobretudo em redes sociais, alimentadas, inclusive, por autoridades do governo federal, que têm a responsabilidade de informar corretamente a opinião pública, especialmente em situações de calamidade mundial, como a que se verifica.
A data de 03 de maio consagrada à Liberdade de Imprensa foi criada em 20 de dezembro de 1993 durante uma Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas e celebra o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assinala o dia da Declaração de Windhoweak, um evento de afirmação de jornalistas africanos em 1991 pela importância da liberdade de imprensa. A Associação Nacional de Jornais do Brasil enfatiza a significação da imprensa no empenho de checar, rechecar versões e fazer chegar ao conhecimento das pessoas a verdade sobre os fatos que estão acontecendo. Em vários países do mundo, na atualidade, a liberdade de informação sofre graves ameaças, até mesmo com hostilidades e agressões a profissionais de diferentes veículos que estão no exercício de suas atividades, desafiando obstáculos de toda ordem.
A situação é tanto mais grave no Brasil em virtude do comportamento belicoso do presidente da República, Jair Bolsonaro, em relação a jornalistas que fazem a cobertura da rotina do poder em ambientes como o Palácio do Planalto ou o Palácio da Alvorada. Desde o começo do governo, Bolsonaro trava embates diários com repórteres, faz insinuações até de caráter pessoal contra homens e mulheres, desqualifica jornalistas em geral e ataca veículos como a Rede Globo de Televisão. Esta semana, o presidente, num dos momentos de irritação com a Globo, por divulgar informações que se contrapõem a versões oficiais, insinuou que poderá não renovar a concessão para funcionamento da Rede de Televisão fundada pelo empresário Roberto Marinho, já falecido.
A Rede Globo é a que proporciona a mais ampla cobertura em termos de informações sobre os diversos aspectos do novo coronavírus, apresentando, de segunda-feira a sexta-feira, um programa pela manhã com entrevistas que reúnem especialistas em estúdio e veicula imagens externas de aglomerações ou de esvaziamento em cidades e centros urbanos, ao mesmo tempo em que aborda os Estados com situação mais crítica. Durante toda a programação, há edições extraordinárias de informativos da emissora com relatos relevantes e atualizados sobre a curva da pandemia. O presidente Jair Bolsonaro tem sido apontado na mídia internacional como o único estadista que, ostensivamente, minimiza e desdenha o impacto do coronavírus. Começou com a afirmação de que “é uma gripezinha”, evoluindo para a recusa, na Justiça, de divulgação dos resultados de seus exames sobre covid-19. Ainda ontem, saiu às ruas em Goiás para abraçar apoiadores e reforçar os pedidos de reabertura do comércio, desrespeitando, como sempre, recomendações da Organização Mundial da Saúde quanto ao uso de máscaras.
Em paralelo, no rastro da pandemia do coronavírus, os meios de comunicação impressos enfrentam uma crise sem precedentes na história da imprensa brasileira. Vários jornais fecharam as portas e demitiram funcionários, como se deu recentemente em João Pessoa com o fechamento do “Correio da Paraíba”, um dos mais tradicionais e o último órgão de imprensa de iniciativa privada. Emissoras de rádio e televisão, por sua vez, estão demitindo funcionários, atrasando e reduzindo salários, o que tem gerado protestos de profissionais nas redes sociais. As entidades representativas de imprensa no Estado, como a Associação Paraibana de Imprensa e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba, mantêm um silêncio comprometedor sobre a crise agravada no seio da comunicação local.