Da Redação, com agências
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, concluiu seu depoimento no prédio da Polícia Federal em Curitiba na noite do sábado(2), após ficar mais de oito horas no local. Ele foi ouvido no inquérito que apura as acusações que fez ao sair do governo Jair Bolsonaro sobre tentativas do presidente da República de interferir politicamente nas investigações da PF. Durante a manhã, a entrada do prédio da PF virou palco de protestos, com grupos em apoio ao ex-juiz da Lava Jato e outros a favor de Bolsonaro, conforme relatou a “Folha de S. Paulo”.
O ex-ministro chegou ao local por volta das 1h15 mas entrou pelos fundos, frustrando a expectativa de manifestantes. O depoimento acabou perto das 22h. À noite, foram pedidas pizzas no prédio da Polícia Federal para servir as equipes. Moro acabou saindo do edifício apenas por volta da 0h20 deste domingo, sem falar com a imprensa. Além de reiterar as acusações feitas ao sair do governo, Moro informou que apresentaria novas provas do que havia afirmado sobre a tentativa de ingerência de Bolsonaro na Polícia Federal. O presidente, disse ele ao pedir demissão, queria a troca de comando para ter acesso a investigações em andamento.
Diante disso, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura de um inquérito para apurar o caso, o que foi aceito pelo Supremo Tribunal Federal. O depoimento de Moro à PF foi marcado para ontem após o ministro Celso de Mello dar cinco dias de prazo para a corporação ouvi-lo. Nos últimos dias, Bolsonaro tentou nomear Alexandre Ramagem, amigo de sua família, para a direção-geral da PF no lugar de Maurício Valeixo. A posse, todavia, foi barrada por decisão do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que citou as acusações feitas por Moro ao sair do governo. Há diversas investigações da PF de interesse de aliados e dos filhos do presidente.
O clima foi de intensa movimentação em frente à Polícia Federal em Curitiba. Um grupo pró-Bolsonaro queimou camisetas com as imagens de Moro. Eles cercaram o ato com bandeiras do Brasil, impedindo a imprensa de filmar ou fotografar. Do carro de som, uma mulher anunciou o fim da “República de Curitiba” e o início do “Império de Curitiba”. Desde a manhã, com alguns momentos de tensão entre os dois grupos e ataques contra a imprensa, cerca de 50 manifestantes se aglomeraram diante do prédio da PF, que também já abrigou a vigília em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquanto ele estava preso. Moro foi prestar depoimento ao lado do advogado Rodrigo Sanchez Rios, que também defendeu alguns presos pela Lava Jato, entre eles o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, além de ter trabalhado no escritório que defendeu Marcelo Odebrecht.
A ligação foi ironizada por dois filhos do presidente Jair Bolsonaro em publicações em redes sociais. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) escreveu: “Ué…”, ao compartilhar publicação que dizia: “O advogado do Sergio Mentiroso é o mesmo advogado da Odebrecht”. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos RJ) também distribuiu a mesma mensagem, com o comentário: “Sem novidades!”. Diante da PF de Curitiba, de um carro de som os militantes pró-governo, mais numerosos, cantavam o hino nacional e gritavam palavras de ordem contra Moro, chamado na maior parte do tempo de traidor. “Não fomos nós, foi você que sujou sua biografia”, discursou Marisa Lobo, uma das manifestantes. Do outro lado, apoiadores da operação Lava Jato tentaram contrapor o discurso majoritário. “Vendiam camisetas do Moro, sobreviviam com a Lava Jato. E foram capazes de ir pra rua queimar a camiseta. Não têm mais moral essas pessoas”, criticou a empresária Simone de Araújo.