Nonato Guedes, com agências
Com o apoio de milicianos e de eleitores remanescentes, o presidente Jair Bolsonaro prestigiou, ontem, em Brasília, manifestações que começaram com carreata, viraram passeata e culminaram em comício em frente ao Palácio do Planalto. Bolsonaro, na definição do colunista Ricardo Kotscho, agia como comandante de um suposto exército de ocupação vitorioso. Em transmissão ao vivo nas suas redes sociais o presidente proclamou:
– Tenho certeza de uma coisa: nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia e pela liberdade. E o mais importante: temos Deus conosco. Quero governar sem interferência que possa atrapalhar o Brasil. Acabou a paciência! Chegamos ao limite. Não tem mais conversa. Daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem dupla mão, não duas mãos de um lado só – acrescentou o presidente.
Coincidindo com o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, houve ataques de Bolsonaro e apoiadores a jornalistas. Uma equipe de reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” foi atacada por milicianos uniformizados com as camisas amarelas da seleção. O fotógrafo Dida Sampaio e o motorista do jornal foram agredidos a socos e pontapés. Na opinião de Ricardo Kotscho, o primeiro domingo de maio vai ficar marcado como o maior desafio às instituições democráticas desde o golpe militar de 1964. O jornalista recorda que a escalada golpista miliciana começou duas semanas atrás em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, quando Bolsonaro foi apoiar outra manifestação que pedia intervenção militar e a volta do Ato Institucional Número Cinco.
– Em meio à maior crise sanitária mundial, que já deixou 7 mil mortos e mais de 100 mil contaminados pelo coronavírus no país, o Brasil está entrando agora no AI-6, meio século depois, sob o comando de um alucinado à paisana, que desistiu de governar o país para se tornar o chefe de uma perigosa organização familiar-miliciano-fundamentalista, com uma guarda pretoriana de generais de pijama. Parece filme de terror, mas é tudo real, com um enredo tão inverossímil que é capaz de colocar Gabriel Garcia Marques no chinelo – analisou Ricardo Kotscho. As atitudes de Bolsonaro provocaram repúdio de representantes de outros poderes e instituições. A ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, afirmou que “quem transgride e ofende a liberdade de imprensa, ofende a Constituição, a democracia e a cidadania brasileira”. Segundo Cármen Lúcia, “isso significa atuar de maneira inconstitucional”.
Outro ministro do STF, Gilmar Mendes, afirmou que “a agressão a jornalistas é uma agressão à liberdade de expressão e uma agressão à própria democracia. Isso tem que ficar claro”. Os ministros também disseram lamentar a agressão física e verbal contra profissionais do jornal “O Estado de S. Paulo” – o fotógrafo Dida Sampaio, o motorista do jornal Marcos Pereira e o repórteres Julia Lindner e André Borges sofreram ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro enquanto realizava, a cobertura jornalística do evento no domingo. O ministro Alexandre de Moraes, por sua vez, afirmou que o episódio deve ser repudiado “pela covardia do ato e pelo ferimento à Democracia e ao Estado de Direito”. O ministro Luz Fu disse que em um país onde se admite agressões à imprensa, a democracia corre graves riscos. Mais cedo, o ministro Luís Roberto Barroso defendeu a liberdade de imprensa e o jornalismo profissional como forma de combater o ódio, a mentira e a intolerância.