Com o aumento das tensões entre o presidente Jair Bolsonaro e a atriz Regina Duarte, membros do governo tentam, em Brasília, esfriar a temperatura e evitar um desgaste político com a Secretária Especial de Cultura. Na agenda oficial de Bolsonaro para hoje consta uma reunião com o ministro do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio, responsável pela secretaria de Cultura, e com Regina Duarte. É mais uma tentativa de acalmar os ânimos e evitar novos desafetos. Bolsonaro demonstra descontentamento com o desempenho da atriz na pasta, que, por sua vez, desagrada, também, expoentes dos meios artísticos e culturais.
Na edição de ontem do “Diário Oficial” da União, o maestro Dante Henrique Mantovani foi nomeado presidente da Fundação Nacional de Artes – Funarte. O músico é desafeto de Regina e tinha sido tirado da pasta quando ela assumiu a secretaria. No final da tarde de ontem, o governo suspendeu a nomeação de Dante. Pessoas próximas do presidente e do ministro Marcelo Alvaro Antonio disseram que a saída da secretária seria uma sinalização ruim para a sociedade e tratam a nomeação de Dante como “mal-entendido”. Regina, assim como o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, entrou no governo com a expectativa de ter carta branca na gestão, mas esbarra na autoridade de Bolsonaro. O atrito em torno da autonomia para dirigir a pasta se deu desde a posse.
A nomeação de Dante ontem foi assinada por Braga Neto (Casa Civil) e não pela Secretária Especial. No Palácio do Planalto, a avaliação é que seria melhor tentar arrefecer os ânimos para não criar mais uma demissão em curto espaço de tempo. Em menos de dez dias, Bolsonaro perdeu dois dos ministros mais bem avaliados do governo: Sergio Moro, que pediu demissão no dia 24 último, e Luiz Henrique Mandetta (Saúde) que foi demitido em 16 de abril. Mantovani havia sido exonerado do cargo dois meses atrás, no dia em que Regina Duarte assumiu o comando da Secretaria da Cultura. Na ocasião, quem foi assinou a exoneração foi Braga Neto, ministro chefe da Casa Civil.
Nos últimos dias, Regina passou a ser criticada pela falta de solidariedade mais direta a familiares e parentes de artistas renomados que morreram nos últimos meses, a exemplo de Moraes Moreira, Rubem Fonseca, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Aldir Blanc e Flávio Migliaccio. O silêncio de Regina em relação a Aldir e Flavio foi questionado em milhares de comentários deixados em seu perfil, feitos por anônimos e também por colegas da classe artística. A apresentadora Astrid Fontenelle escreveu: “Vim te dar a notícia da passagem do Flávio Migliaccio… Imagino ter sido seu colega. Uma lástima. Morreu de Brasil”. No atual período de quarentena ocasionado pelo coronavírus, Regina Duarte, que integra o grupo de risco por ser idosa, isolou-se em São Paulo, aparentemente despachando em regime de “home office”. O presidente Bolsonaro queixou-se que sentia a sua falta em Brasília. Nas últimas horas, com as tensões se acentuando dentro do governo e com atos atingindo a pasta da Cultura, a atriz retornou à Capital Federal, onde até o final de semana, ou antes disso, terá uma definição sobre sua permanência ou não no cargo. Membros da família de Regina já se manifestaram publicamente protestando contra o tratamento dispensado por Bolsonaro a ela e sugeriram que ela reconsiderasse a ideia de continuar na Pasta.