Nonato Guedes
Segundo relato de bastidores da reportagem de UOL, na reunião mantida na terça-feira (5) por videoconferência com os 27 secretários de Saúde dos Estados, para tratar da pandemia de covid-19,o ministro Nelson Teich foi colocado contra a parede. Os secretários reclamaram da demora na tomada de decisões e arrancaram de Teich compromissos que contrariam o presidente Jair Bolsonaro. Demorou 18 dias desde a posse para que o ministro reunisse todos os secretários estaduais. Ele substituiu no cargo a Luiz Henrique Mandetta (DEM), que era constantemente desrespeitado por Bolsonaro no cumprimento pessoal de medidas de isolamento recomendadas para prevenir o contágio do coronavírus.
Desde 17 de abril, quando o novo ministro tomou posse, os secretários reclamavam da falta de interlocução com o governo, apesar do agravamento da situação do coronavírus. Quando Luiz Henrique Mandetta esteve à frente do ministério, eles afirmam, as conversas eram diárias. Com o substituto, o primeiro contato só aconteceu na semana passada, quando Teich reuniu os secretários de cada região do Brasil em cinco teleconferências. Na reunião da última terça, o oncologista-ministro precisou lidar pela primeira vez com os 27 secretários, que não pouparam cobranças.
Conforme as queixas apresentadas, os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) chegam em quantidade muito pequena a Estados e municípios, o ministério habilita poucos leitos de UTI, a oferta de testes é pequena e o governo federal não ajuda no financiamento dos hospitais de campanha. Na ocasião, o ministro informou que encomendou de empresas nacionais 14.100 respiradores, com entrega de duzentas unidades por semana. A informação frustrou os secretários: eles só receberiam todos os aparelhos em 2021. Mas o principal pedido feito ao ministro deve incomodar o presidente Bolsonaro. Para os secretários, o governo federal precisa declarar-se explicitamente a favor do isolamento social, cuja defesa resultou na demissão de Mandetta.
Para os secretários, é “impossível” que Estados e municípios mantenham uma recomendação diferente da do governo federal. Eles, então, arrancaram de Nelson Teich a promessa de que o Ministério da Saúde produzirá uma peça publicitária recomendando o isolamento em todo o Brasil. As peças devem ser regionais para se adaptar às necessidades de cada Estado. “Teich afirmou que essa solicitação dos secretários será atendida”, informou em nota o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). “Não foi realizada até o momento uma campanha publicitária de alcance nacional com informações sobre a pandemia”, diz o informe, que invoca “a necessidade de um discurso único”. Apesar do clima de cobrança durante a reunião, oficialmente a maioria dos secretários, dependentes da ajuda federal, evitam o confronto público com o ministro.