Kubitschek Pinheiro
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Wills Leal já foi. No século passado ele me contou que uma vaca entrou em sua casa. Nessa época ele ainda morava na praia de Manaira. A mimosa subiu para o primeiro andar e ninguém viu.
Foi preciso chamar os bombeiros para tirar o ruminante dali. A casa de WL não tinha muro, onde ele passava o dia ouvindo The Wall. Aliás, não foi Wills quem me recomendou o disco da Pink Floyd “Atom Heart Mother”, que tem uma vaca na capa, o quinto da banda, de 1970. Acho que foi o jornalista Silvio Osias.
Já neste século, enfiei a cabeça na sala do cinema (quando existia cinema) e vi que tinha pouca gente. Fui assistir “Parasitas” de Bong Jooan-ho. O filme mostra que não existem planos para manutenção de um nível saudável de felicidade. Nem A, nem B. Na hora me lembrei da vaca de Wills. O experimento de chegar em casa, e ao invés de um ladrão, a pessoa ficar de cara com uma vaca, não tem comparação. Se pelo menos fosse uma cabra. Adoro queijo de cabra.
De todas as maneiras de ser um bezerro gritando mamãe, sonhei duas vezes com a vaca entrando na casa de Wills, que nesse dia hospedava duas americanas lindas de Minnesota, que faziam topless na piscina, enquanto Wills distante, no Recife, assistia a série “Wills de A a W” de Jomard Muniz de Brito, no Teatro Santa Isabel
Imagine uma cornucópia de mulheres na piscina do amigo Leal e ele jogando leite em pó na cara dos caretas do bairro. Ah, não sei do que eu seria capaz: se chamava o síndico, ou escreveria um ensaio bem ordenhado. Eu queria era tibungar na piscina. Sim, my cow produces a lot of milk every day.
Quer saber, o ano passado, deixei Wills na portaria do prédio “João Marques de Almeida”, onde Petrônio Souto o esperava para uma sessão da tarde. Antes, ainda no carro, Wills recebeu uma ligação “Diga, aqui quem fala é Wilssss. A vaca? Ela começou comendo a grama da rampinha de minha casa e chegando ao topo, onde tinha umas flores de plástico, tombou direto pra piscina”, falava ele ao Diário da Borborema.
Ainda hoje vejo algumas vacas com seus cônjuges pastando no final da Avenida Beira Rio. Na quarentena aumentou consideravelmente. Afinal, se eu fosse prefeito daria um jeito na cidade. Decretaria esse tal de Lockdown, que ao pé da letra quer dizer… Será que a vaca no Google tem como assistente outra vaca, para conversar com a Siri?
Quer saber? Abri o Spotify e fui ouvir a canção “Negror dos Tempos” que Caetano Veloso fez para Maria Bethânia gravar no disco “Drama – Anjo Exterminado”, de 1972. Caetano contou a história dessa canção na tribuna do Supremo, dizendo que a censura retirou da letra os olhos tristes da vaca.
Vejamos a letra: “Quando eu vejo você, com seus olhos de vaca. Sua vaca, com seus grandes olhos de vaca. Sua grande vaca. Com seus olhos de vaca triste. Menina triste do meu amor”. Estou triste, Wills se foi. Aliás, morreu duas vezes, uma foi fake news
Quando eu era pequeno meu pai me levava para conhecer o Brejo das Freiras, na região de Cajazeiras, mas a vaca de Wills ainda não tinha ido para o brejo. Estou triste. A vaca é um animal sagrado? Seria Adriano o grande amor de Marguerite Yourcenar? Oche, tergiversei?
Vamos imaginar que a vaca é gentil, além de seu delicioso filé, o patinho, a alcatra, a chã de dentro e de fora, na crueldade dessa vida de gado. E a vacation? Ah, Wills o Brasil foi para o Brejo.
Deixe a vaca pra lá: eu li que outro dia o STF manteve prisão de um homem que furtou um rádio de 70 reais. Quero ver quem vai cobrar pedágios da cow de Wills.
Wills “Tá craude brô. – Você e tu, Lhe amo!”
Kapetadas
1 – Olha, muita gente tá achando que os bandidos serão soltos e o Brasil vai entrar em colapso. Calma, gente, não é bem assim. Muitos nem presos estão.
2 – Vem cá, me diz aí – a gente acorda porque o sono termina ou é o contrário?
3 – Som na caixa: “É que o urubu tá querendo comer, mas o boi não quer morrer, não tem alimentação”, Baianos e os Novos Caetanos.