Nonato Guedes
Embora não o confessem publicamente, deputados federais da bancada paraibana que fazem parte da base de sustentação do governo do presidente Jair Bolsonaro estão desapontados com atitudes tomadas pelo mandatário e que causam repercussão negativa entre setores da opinião pública. A referência, em conversas de bastidores, é ao comportamento que Bolsonaro tem adotado diante da pandemia do novo coronavírus, que colide com recomendações da Organização Mundial da Saúde e do próprio Ministério da Saúde do governo que ele preside. A reportagem apurou que não há queixas quanto à liberação de recursos para atender ao Estado e aos municípios onde são visíveis as carências para enfrentamento à pandemia de covid-19. Mas tanto deputados como senadores não se sentem à vontade para defender Bolsonaro publicamente quando ele minimiza a gravidade do coronavírus, desautoriza ministros, governadores e prefeitos – estes últimos por cumprirem medidas de isolamento social.
O deputado federal Efraim Filho, líder do Democratas, por exemplo, enfrentou desconforto com a exoneração do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, filiado ao seu partido e que, na sua opinião, vinha desenvolvendo um trabalho louvável à frente da Pasta no monitoramento de providências para combate á covid-19. Mandetta foi “degolado” por causa da divergência explícita de Bolsonaro quanto a recomendações técnicas e profissionais que ele vinha defendendo. Efraim tinha prestígio pessoal com Mandetta, que, inclusive, chegou a visitar a cidade de Santa Luzia, berço político do parlamentar, no Vale do Sabugy, para encaminhar reivindicações de interesse público. O deputado logrou êxito, ainda, ao intermediar com Mandetta em Brasília providências beneficiando hospitais da rede pública em cidades grandes e médias da Paraíba.
Outro foco de constrangimento para Efraim é a relação de atrito constante entre o presidente Jair Bolsonaro e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara Federal, Rodrigo Maia, por divergências quanto ao montante de recursos extraordinários aprovados para destinação específica a ações de combate ao coronavírus. Efraim estreitou relações, principalmente, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e avalia que ele tem demonstrado elevado grau de espírito público à frente da Casa, procurando favorecer equitativamente todos os Estados na conjuntura de calamidade. Ao mesmo tempo, o deputado do DEM pela Paraíba considera lamentável a quebra da união entre líderes protagonistas que estão tendo atuação reconhecida nos diferentes Poderes no momento difícil que o Brasil atravessa. Efraim tem insistido na retomada do diálogo em bases respeitáveis e alinhadas com as respectivas competências institucionais.
Outro deputado cujo partido tem votado matérias de interesse público remetidas pelo Executivo, o tucano Pedro Cunha Lima, age com independência nas sessões remotas da Câmara de que participa, nas proposições que formula e nas entrevistas que concede, não poupando críticas pontuais ao governo de Bolsonaro quando julga necessário fazê-las. Para o deputado Pedro Cunha Lima, o desempenho da Câmara e do Senado na situação de emergência em vigor não pode ser minimizado ou relativizado, já que tem sido valiosa a contribuição oferecida ao próprio governo na conjunção de esforços para dotar Estados e municípios de leitos, equipamentos e condições básicas de atendimento à população. Já o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, que é vinculado ao “Centrão”, agrupamento que Bolsonaro logrou cortejar agora para ampliar a base no Congresso, tem evitado polêmicas sobre as posturas pessoais do presidente mas tem chamado a atenção para o fato de que procura fazer sua parte no contexto da realidade.
O governador João Azevêdo (Cidadania), tem participado de reuniões virtuais com o presidente da República ou com autoridades do governo federal, apresentando reivindicações específicas, mas conta, sobretudo, com o apoio da bancada que lhe apoia. Entre os deputados federais paraibanos, os que criticam mais radicalmente as atitudes do presidente Bolsonaro e as ações do próprio governo são Gervásio Maia, do PSB, ligado ao ex-governador Ricardo Coutinho, e Frei Anastácio Ribeiro, do Partido dos Trabalhadores.