Da Redação, com “Congresso em Foco”
O presidente Jair Bolsonaro passeou de jetski no lago Paranoá, em Brasília, no sábado, no dia em que o Brasil alcançou a marca dos 10.627 óbitos por covid-19 e 155.939 pessoas infectadas pelo vírus. Bolsonaro voltou a desdenhar a gravidade da situação e afirmou que a população está com “neurose” quanto ao vírus, prevendo que ao menos 70% da população pegará coronavírus. Até este momento o presidente não emitiu nenhuma nota de solidariedade, apenas limitou-se a divulgar em suas redes sociais propagandas dos feitos econômicos do governo.
Bolsonaro passeou pelo lago e parou em um deck, onde tirou fotos com apoiadores. Na pequena aglomeração, nem o presidente nem a maioria dos apoiadores usavam máscaras, conforme orienta a Organização Mundial da Saúde. Desde o dia 30 de abril é proibido frequentar espaços públicos no Distrito Federal sem o uso de máscaras. A partir da próxima segunda-feira, quem desrespeitar o decreto receberá multa de R$ 2 mil. O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal para que os exames de covid-19 feitos pelo presidente Jair Bolsonaro sejam alvo de busca e apreensão, diante da recusa do mandatário em liberar os resultados ao conhecimento público.
Desde o início da pandemia, o presidente tem incentivado e participado de aglomerações e o deputado Reginaldo Lopes afirmou ser necessário saber se Bolsonaro colocou em risco a população. Na noite de sexta-feira, o Superior Tribunal de Justiça derrubou as decisões que obrigavam Jair Bolsonaro a apresentar os resultados dos exames. A decisão partiu do presidente da Corte, João Otávio Noronha. A peça jurídica, impetrada pelo petista na Suprema Corte, é um pedido de adiamento, ou seja, para que haja incorporação de outra notícia-crime que já havia sido apresentada. A denúncia em questão diz respeito à maneira que o presidente tem tratado a covid-19. Somente até o último dia 25, Bolsonaro chamou a doença, que já matou mais de dez mil brasileiros, de “histeria”, “resfriadinho” e “gripezinha”.
No argumento do aditamento apresentado, o deputado relembrou que no último dia 30 Bolsonaro voltou a afirmar que pode ter contraído o coronavírus. Em entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre, durante visita à capital gaúcha, o chefe do Executivo declarou que “talvez já tenha pegado esse vírus no passado, talvez, talvez, e nem senti”. O deputado Reginaldo revela: “Decerto, os laudos dos exames a que fora submetido o presidente da República para a detecção de covid-19 são relevantes para comprovação das imputações constantes no processo em epígrafe, bem como para que a douta Procuradoria Geral da República realize novo estudo sobre a viabilidade de apresentação de eventual denúncia contra o presidente da República”.
Em meio à crise da pandemia, o presidente da República tem tomado atitudes ostensivamente polêmicas. Esta semana ele atravessou a pé a Praça dos Três Poderes em Brasília, acompanhado por inúmeros empresários, e foi até o Supremo Tribunal Federal exigir uma medida concreta para reabertura do comércio, alegando que são incalculáveis os prejuízos causados à economia. O gesto de Bolsonaro incomodou ministros da Corte, até porque ele insistiu em fazer uma transmissão ao vivo do debate com integrantes do STF, sem autorização oficial. Em algumas áreas, a atitude foi interpretada como manobra do presidente para dividir responsabilidades com outros Poderes diante dos prejuízos econômicos. Bolsonaro também provocou jornalistas dizendo que iria promover um churrasco com inúmeros convidados no Palácio do Alvorada. Acabou voltando atrás, diante das reações fortemente negativas, e admitiu que havia apelado para “fakenews”.