Nonato Guedes, com agências
Um grupo de mais de quinhentos artistas, intelectuais e produtores culturais divulgou um manifesto de repúdio às palavras e atitudes de Regina Duarte, secretária nacional de Cultura do governo Jair Bolsonaro. O manifesto foi endossado por atores, cantores, compositores, escritores, roteiristas, cineastas, artistas plásticos, fotógrafos e dançarinos. Eles declaram que fazem parte da maioria de cidadãs e cidadãos que defende a democracia e apoia a independência das instituições para fazer valer a Constituição de 1988.
O grupo pede respeito aos mortos e àqueles que “lutam pela própria sobrevivência no país devastado pela pandemia e pela nefasta ineficiência do poder público” e diz que não tolera “os crimes cometidos por qualquer governo, que repudia a corrupção e a tortura e que não deseja a volta da ditadura militar”. No manifesto, o grupo também salienta que não aceita “os ataques reiterados à arte, à ciência e à imprensa, e que não admite a destruição do setor cultural ou qualquer ameaça à liberdade de expressão”. O manifesto termina dizendo: “Ela não nos representa”. Foi uma reação à entrevista polêmica da ex-atriz para a CNN Brasil, em que ela justificou muito mal a ausência de manifestações oficiais por ocasião de mortes de artistas ilustres, minimizou a ditadura militar brasileira, a tortura praticada no período, a crise sanitária de coronavírus e teve um chilique interrompendo a entrevista quando a emissora mostrou um vídeo enviado pela atriz Maitê Proença pedindo soluções para a classe artística em meio à pandemia.
Entre os signatários estão os cantores Caetano Veloso, Emicida, Chico Buarque de Holanda e Rita Lee, as atrizes Marieta Severo, Elisa Lucinda e Patrícia Pillar, os atores Pailo Betti e Tonico Pereira e os autores de novela Walter Carrasco e Maria Adelaide Amaral. O “Jornal Nacional”, da TV Globo, reproduziu no sábado trechos do manifesto contra a secretária Especial de Cultura, que por muito tempo atuou na emissora. Na entrevista à CNN, bastante tumultuada, Regina falou sobre seus primeiros 60 dias à frente da Pasta e sobre a reunião com o presidente Jair Bolsonaro que selou sua permanência no cargo. Chegou a entoar “Pra frente Brasil”, de Miguel Gustavo, jingle conhecido como hino da seleção brasileira de 1970, ao vivo. Regina disse que a cultura está acima dos partidos e das ideologias quando perguntada sobre sua omissão a respeito da morte de grandes nomes das artes brasileiras nos últimos dias e questionou: “Será que a secretaria vai virar um obituário?”. Ela explicou ter enviado mensagens particulares às famílias dos artistas mortos em vez de prestar homenagens publicamente.
Regina Duarte tem estado na berlinda desde que assumiu a Secretaria Especial de Cultura do governo do presidente Bolsonaro. Ultimamente foi cobrada pelo próprio presidente da República, que reclamou da sua ausência em Brasília, embora admitindo que Regina estivesse trabalhando “home office” em São Paulo. Ponderou que gostaria de conversar pessoalmente com ela sobre questões referentes à pasta da Cultura. A atriz decidiu, então, ir a Brasília, onde promoveu reuniões, foi surpreendida com a renomeação de desafeto para a Funarte e entrou em atrito com expoentes do governo ainda ligados a Olavo de Carvalho, “guru” do “clã” Bolsonaro. A situação se complicou com a desastrada entrevista à CNN, que desencadeou manifestações de repúdio por parte de figuras expressivas dos segmentos culturais.