Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania) foi destaque na mídia nacional pelas duras críticas feitas, ontem, ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na estratégia de enfrentamento ao coronavírus. Em entrevista à CNN Brasil, o gestor paraibano afirmou que falta aos comandados do presidente da República um discurso de articulação com governadores e prefeitos e foi incisivo ao comentar que os Estados estão à mercê de sua própria sorte na atual fase de calamidade, “buscando aquisição de equipamentos, com uma dificuldade muito grande, com aproveitamento do mercado subindo preço de equipamentos”.
– Faltou um discurso único e a gente percebe que há um desencontro da fala de autoridades do governo federal – expressou o governador paraibano. Ele ponderou que na mudança da equipe do ministério da Saúde em abril, com a saída do então titular Luiz Henrique Mandetta, criou-se um vácuo nas ações do governo. “Durante esse período, a logística que estava sendo implementada para a aquisição de equipamentos foi suspensa e implantou-se uma nova filosofia. Hoje, não temos respiradores chegando da China e fabricam-se aqui 180, o que não representa nada”, salientou Azevêdo, um dos entusiastas do “Consórcio Nordeste”, criado pelos atuais gestores da região para contornar a dependência ao governo federal. As declarações do governador paraibano foram destacadas, também, pelo site UOL Notícias.
Para Azevêdo, diante da gravidade da situação, ainda não é o momento de relaxar as medidas de isolamento. “Só será possível flexibilizar quando houver, primeiro, uma diminuição constante de casos a cada dia, quando tivermos atingido o patamar máximo de contaminação, quando tivermos um número de leitos que ofereça essa garantia de UTI”, explicou. Pelos cálculos do governador, a Paraíba tem apenas 55% de leitos hospitalares ocupados, mas os números são menos favoráveis em outros recortes. Informou que são cerca de 67% de leitos de UTI ocupados e 70% de leitos ocupados na região metropolitana de João Pessoa, por exemplo.
“Nós não temos hoje, ainda, um plano de contingência todo formalizado, por conta de UTIS que não foram instaladas por falta de equipamento. É preciso ter uma visão mais clara, consistente. Estamos subindo uma ladeira. Quando estivermos descendo, poderemos flexibilizar”, ressaltou. O governador defendeu uma maior rigidez no isolamento social na Grande João Pessoa, caso haja necessidade mas considerou inviável a adoção de um “lockdown”, nos moldes adotados em países europeus. “Esse modelo não funcionaria no Brasil porque seria necessário que envolvêssemos todas as forças militares como o Exército e a Polícia Militar, enfim, toda uma estrutura que fizesse com que esse bloqueio total pudesse ser realizado. E sabemos que em virtude das posições da Presidência da República e de alguns que defendem que parte da economia seja aberta, isso não vai ser viável. Na Paraíba, se for preciso endurecer, faremos isso porque é a única forma de enfrentarmos essa situação com a coragem que o momento requer”, pontuou Azevêdo.
Durante a entrevista, ele ainda destacou a antecipação das ações da gestão estadual para dar respostas à população paraibana diante do avanço da pandemia. “Desde o dia 13 de março, o Estado vem implementando medidas, criando as condições para promover o isolamento social por ser a única ferramenta que dispomos neste momento para enfrentar a doença. Implantamos hospitais de campanha, ampliamos o número de leitos de UTI, montamos um Plano de Contingenciamento, que está sendo implementado apesar das dificuldades que enfrentamos hoje com a falta de uma coordenação nacional para ajudar Estados e municípios na aquisição de insumos e equipamentos”, esclareceu. O debate também contou com a participação do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.