O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, chamou de “disparate” a medida tomada pelo presidente Jair Bolsonaro de reabrir salões de beleza e academias esportivas. Bolsonaro, ontem, classificou tais serviços como essenciais, durante a pandemia do novo coronavírus que assola o país. Beltrame alertou que a decisão não faz o menor sentido, no momento em que os números de óbitos e doentes só aumentam. “Essa medida é um verdadeiro absurdo, diante de tanto sofrimento e dor que as vítimas e a população estão passando”, completou.
Para o representante do Conass, todas as medidas anunciadas pelo presidente que ampliam os serviços essenciais dificultam o isolamento. “No momento em que discutimos ações para o isolamento, esse tipo de medida gera dúvida na população. Colocar salões e academias como serviços essenciais é um verdadeiro absurdo. Essenciais são farmácias, supermercados”, declarou. Bolsonaro justificou a medida dizendo que “saúde é vida, academias, salão de beleza e cabeleireiro também”. E acrescentou: “Higiene é vida”. Já o ministro da Saúde, Nelson Teich, foi pego de surpresa com a decisão do presidente, como confessou em entrevista a jornalistas.
Depois do susto, o ministro declarou que cabe ao Ministério da Economia avaliar quais são os serviços essenciais. “Avaliamos o melhor fluxo que impeça as pessoas de se contaminarem e os requisitos que as exponham menos. Nossa tarefa é proteger as pessoas. Decidir sobre atividades essenciais é uma tarefa da economia”, reforçou. Por outro lado, versões divulgadas pela CNN Brasil dão conta de que auxiliares do presidente Jair Bolsonaro no Planalto trabalham com a possibilidade de uma nova troca no Ministério da Saúde. As últimas horas foram de bombardeio do atual ministro Nelson Teich nas redes sociais. Fora da internet, também. A decisão de Bolsonaro em classificar academias e salões como atividades essenciais, sem consultar Teich, o que aumenta o número de pessoas nas ruas, foi encarada como um “by pass” no ministro, um tipo de “passar por cima”, na avaliação de interlocutores do Planalto. Para substituí-lo, novamente o nome do deputado federal Osmar Terra, que é médico, é apontado por assessores do presidente.
Contra o ministro, que também é médico, a hashtag “teichliberaacloroquina” foi uma das mais comentadas do dia. No Ministério da Saúde, no entanto, a avaliação é de que não há mais nada a ser feito sobre o assunto. “A cloroquina não vai ser a bala de prata que as pessoas pensavam ser. Estudos mostram isso. Tudo o que dava para fazer já foi feito”, afirmou um interlocutor da Saúde que ressalta não existir protocolo de uso, mas uma nota informativa da pasta sobre a utilização da cloroquina no tratamento do coronavírus. Além da desconfiança de Teich sobre a cloroquina, uma publicação do ministro no Dia das Mães também irritou quem segue o perfil do presidente Jair Bolsonaro. Um monitoramento de redes feito pelo Planalto mostra que o ministro dividiu opiniões após fazer uma publicação sobre o número de mortes no domingo que dizia: “Quero falar principalmente pra aquelas mães que hoje choram a perda de seus filhos e para os filhos que não podem comemorar o dia com suas mães. Para esses, deixo aqui meus sentimentos e meu compromisso de fazer o meu melhor para que vençamos rápido essa terrível guerra”.