O ministro da Saúde, Nelson Teich, cancelou a apresentação que faria, ontem, do seu plano com diretrizes de isolamento social para Estados e municípios devido ao novo coronavírus. A medida ocorreu depois que o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conassems) reprovaram o estudo. A coletiva de imprensa, marcada para as 17h de ontem, foi cancelada dez minutos antes de ocorrer. O órgão e o ministro já estavam se desentendendo desde a segunda-feira sobre o plano.
No início da semana, o presidente do Conass, Alberto Beltrame, disse ao UOL que esse não era o melhor momento para apresentação de um plano sobre níveis de isolamento. Segundo ele, tal medida poderia provocar uma flexibilização do isolamento no momento em que os casos de coronavírus estão aumentando, e passar uma mensagem dúbia à população. “Agora, é hora de cuidar das pessoas”, disse Beltrame. Acrescentou: “Não pedimos ao ministério uma flexibilização do isolamento. Pedimos o apoio às medidas de isolamento social, mesmo que não fossem uniformes no Brasil inteiro. O plano de Teich é complexo e exige uma grande quantidade de informações sobre o sistema de saúde dos Estados e municípios, que ainda não estão disponíveis, como o número de testes”.
O plano de Teich fixava diretrizes para Estados e municípios em suas decisões sobre medidas de isolamento social contra o novo coronavírus. Ele não teria caráter obrigatório, mas funcionaria como uma orientação. O estudo previa um sistema de pontos baseado em quatro critérios: capacidade hospitalar instalada, contexto epidemiológico, velocidade de crescimento e índices de mobilidade urbana. O resultado seria colocado em cinco níveis diferentes de risco: risco muito baixo, risco baixo, risco moderado, risco alto e risco muito alto. Para cada nível de risco, a recomendação de distanciamento seria diferente. Na segunda-feira, Teich disse que seu plano não era político nem recomendava a flexibilização do isolamento. Em nota, a Pasta comunicou ontem que a coletiva foi cancelada porque o Ministério da Saúde aguarda a pactuação da estratégia de gestão de risco junto a Estados e municípios”.
Enquanto isso, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou a maneira que o presidente Jair Bolsonaro tem conduzido a crise do coronavírus em uma entrevista à CNN norte-americana. Na entrevista, que foi ao ar pouco antes de o STF tornar públicos os exames do presidente que deram negativo, Mandetta afirmou que não sabia quais eram os resultados dos testes mas que o presidente estava presente “na viagem do coronavírus”. Ele explicou: “O que eu sei é que logo depois que (Bolsonaro) fez uma viagem aos EUA, na qual todos eles (a comitiva presidencial) jantaram com o presidente Donald Trump, o cara da comunicação (o chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social, Fábio Wanjgarten) voltou no avião com a doença. Das pessoas que viajaram com ele, 17 testaram positivo até 15 dias depois que ele chegou. Essa viagem foi uma viagem do coronavírus”.
O ex-ministro também afirmou que a influência de Trump sobre Bolsonaro só funciona parcialmente, já que o presidente dos Estados Unidos voltou atrás em algumas ações sobre o coronavírus. “Infelizmente, ele é um dos poucos líderes mundiais que continua com esse posicionamento de que a economia deve voltar a qualquer custo e que a perda de empregos será pior e que as pessoas deveriam se preocupar em como manter a economia ativa”, disse Mandetta na entrevista à jornalista Christiane Amanpour. “Então é bem difícil dizer às pessoas que devemos deixar a doença seguir seu curso natural e não nos expormos. O Trump ao menos voltou atrás”, finalizou. Mandetta foi o ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, mas as visões distintas sobre como conduzir a crise do coronavírus abriram embates, até que em abril ele foi demitido pelo presidente e substituído por Nelson Teich.