Nonato Guedes
De concreto, o diretório municipal do PT em João Pessoa, presidido por Giucélia Figueiredo, deliberou que a agremiação terá chapa própria às eleições de prefeito da Capital, mas não há qualquer pista sobre o perfil da candidatura que será lançada à sucessão de Luciano Cartaxo (PV). A impressão que resulta da nota da cúpula petista é a de que o partido está à procura de um nome viável para representar as suas cores no pleito previsto para outubro. A ideia de ter candidaturas próprias nas Capitais tem uma impressão digital influente – a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a lapidou nas conversas que tem mantido aproveitando os instantes de liberdade após ter cumprido 580 dias de detenção na superintendência da PF em Curitiba.
Com o voluntariado aberto, até nomes de ilustres desconhecidos têm chances de encabeçar uma chapa petista em João Pessoa, desde que possuam afinidade absoluta com as emanações do “pajé” Lula da Silva. Outro ponto capital, espécie de dogma, para o comando da legenda, é a crítica às duas administrações empalmadas pelo atual prefeito Luciano Cartaxo, que, no início de sua militância política, foi filiado às hostes do Partido dos Trabalhadores. Críticas pontuais, esporádicas, deverão ser feitas à gestão de João Azevêdo (Cidadania) no governo do Estado, mas o foco, mesmo, será o combate ao modelo de governo de Cartaxo. Afinal, o PT participa do governo de Azevêdo, com um dos seus mais destacados expoentes, o ex-deputado federal Luiz Couto, por mais apagada que esteja sendo a atuação dele.
O que se constata é que desde a prisão do ex-presidente Lula o PT paraibano ficou desnorteado em termos de luta pelo protagonismo no cenário político local. A guinada ocorrida na conjuntura estadual também afetou profundamente as bases petistas. O partido estava em fase de reaproximação com o ex-governador Ricardo Coutinho e tornou-se devedor de atenções a ele devido à tática de Ricardo de prestigiar Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff quando esteve à frente do Palácio da Redenção. Coutinho patrocinou a vinda dos dois ex-mandatários para testemunhar o evento da chegada das águas da transposição do rio São Francisco no cariri. Assinou moções de protesto contra o impeachment de Dilma e contra a prisão de Lula, chegando a visitar o ex-presidente na cela da Superintendência da PF no Paraná. Parecia reconvertido ao PT, de onde foi praticamente expulso por alegada infidelidade partidária – na verdade, como parte de estratégia de queimação do seu plano de ser candidato a prefeito da Capital. Ricardo teve que deixar o PT para se eleger prefeito pelo PSB em 2004, reeleito em 2008.
Já governador, também reeleito em 2014, investiu num malabarismo político que o fez abandonar aliados recentes como o tucano Cássio Cunha Lima e voltar-se, de malas e cuia, para a antiga “companheirada” com quem trocou tapas e beijos em árduos tempos de convivência. Lula, naturalmente, saudou, deslumbrado, o reatamento por Ricardo dos canais com o petismo. Ensaiou diretrizes informais proclamando a discussão da adoção do nome do socialista como alternativa à sucessão municipal em João Pessoa agora em 2020. A Capital paraibana seria exceção à regra, um caso à parte no contexto da tese de lançamento de candidaturas petistas próprias em Capitais brasileiras.
O que desmotivou o PT, na aposta quanto à adoção da candidatura de Coutinho, foi o bombástico envolvimento dele na Operação Calvário, conduzida pelo Ministério Público e Polícia Federal, versando sobre desvio de recursos públicos das áreas da Saúde e da Educação. Em depoimentos, delações e investigações colhidas por uma força-tarefa, o ex-governador socialista da Paraíba foi apontado como chefe de uma organização criminosa que, no dizer de autoridades judiciárias, operava na missão de saquear os cofres públicos, de praticar verdadeiro assalto ao erário, em prejuízo do atendimento prioritário de demandas urgentes reclamadas por segmentos carentes da população. A Ricardo foi imputado, além da fugaz prisão preventiva, o uso de tornozoleira eletrônica, não obstante os seus protestos jurando inocência, seguindo o mantra que é adotado por muitos que têm sido pegos com a mão na massa em termos de atos ilícitos e desvios de verbas.
Com Ricardo “subjudice”, pendente, a qualquer momento, do vexame de sanções rigorosas advindas do braço da Lei, e de certa forma atado nos movimentos, quer pelo uso da tornozoleira, quer pela situação atual de isolamento social originada pela pandemia do coronavírus, o PT refez planos e avaliou que não compensaria o desgaste de apostar num candidato cuja reputação foi pelos ares em meio a um rosário de crimes cometidos em conluio com organizações sociais. O candidato do PT a prefeito de João Pessoa pode ser qualquer filiado. O que o partido não abre mão é da tentativa de volta às origens, em que a conquista do poder era a ambição maior, não a posição de coadjuvante no processo político paraibano.